Vocação: Compromisso de Amor
Série de artigos sobre ALIANÇA: COMPROMISSO DE AMOR
22.04.2022 08:00:00 | 7 minutos de leitura

Jairo Ferreira de Melo,
Postulante Psdp.
Percorrermos
um vasto caminho ao longo desses meses com a série: Aliança: Compromisso de
Amor, passando por diversos aspectos da Aliança entre Deus e a humanidade.
Veremos neste artigo um pouco acerca do que compete ao ser humano, enquanto
membro do Corpo de Cristo, isto é, da Igreja Católica Apostólica Romana. No
artigo anterior falamos sobre a Iniciação a Vida Cristã, sob o auxílio do
Espírito Santo. Neste, iremos refletir sobre os sacramentos de serviço: ordem e
matrimônio. É importante ressaltar que além desses dois – que fazem parte dos
sete sacramentos –, falaremos de modo geral de vocação, incluindo os diferentes
modos de vivenciar o “ser cristão”, consequentemente, a Aliança com Deus.
Por
vocação pode-se entender, de modo geral, uma aptidão ou inclinação natural à
determinada área de atuação profissional, direcionada pelos dons e talentos da
pessoa. No entanto, no sentido religioso – o qual vamos nos deter aqui –,
deriva-se da palavra latina vocare, que ao ser traduzida para o
português, designa-se ao verbo “chamar”. Sendo assim, quando relacionamos tal
significado com os sacramentos, temos como base o chamado de Deus, e a vocação
como resposta a esse chamado. Todavia, não exclui o primeiro caso, pelo
contrário, eles estão intrinsecamente ligados, se completando. A respeito disso
o Catecismo alega que “a vocação cristã é também, por natureza, vocação para o
apostolado”, e continua dizendo que por apostolado se entende “toda a atividade
do Corpo Místico”, com o objetivo de “alargar o Reino de Cristo à terra
inteira” (cf. CEC, n. 863).
Após
ter percorrido o caminho de iniciação a vida cristã, o católico necessariamente
precisa dar uma resposta, ou tentar entender qual o chamado que Deus o faz.
Esse será o princípio norteador para a vida do fiel, enquanto membro do Corpo
de Cristo. Como ponto de partida, todo ser humano traz consigo, de forma
natural, a capacidade e a necessidade de constituir uma família, de estar
acompanhado por um parceiro ou parceira. Aqui entra a principal vocação, sem a
qual nenhuma outra existe: a matrimonial. “O Senhor Deus disse: ‘Não é bom que
o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar que lhe seja adequada.’” (Gn 2,18).
“A vocação para o matrimônio está inscrita na própria natureza do homem e da
mulher, tais como saíram das mãos do Criador” (CEC n. 1603). No entanto,
alguns recebem um chamado para seguir a Cristo mais de perto, por meio do
sacerdócio (para os homens); da vida religiosa consagrada (para mulheres e
homens), colocando sua vida a serviço do Reino de Deus; e da vocação dos
celibatários, leigos que se dedicam ao serviço na comunidade cristã, de forma independente
das ordens religiosas, vivenciando o celibato como resposta ao chamado de
Cristo.
Em
conformidade com a experiência do próprio Cristo, em todas as vocações a pessoa
se dispõe a doar-se pelo próximo, “ninguém tem maior amor do que aquele que dá
a sua vida por seus amigos.” (Jo 15,13). No matrimônio: o casal precisa, por
meio do outro, amar a Cristo e ao mesmo tempo auxiliar na santificação do
cônjuge; no sacerdócio, o padre age in persona Christi, isto é, na
pessoa do Cristo, para que possa conduzir a parcela do rebanho de Deus a ele
confiada; na vida religiosa consagrada – freiras, freis, irmãs, irmãos, monjas,
monges etc.–, pessoas que se dedicam ao serviço por meio das obras caritativas
da Igreja, e de oração em favor do próximo. E como leigo (celibatário ou não),
na participação ativa nas comunidades eclesiais: paróquias, dioceses, prelazias
etc. Enfim, todas essas formas de viver o chamado de Deus, enriquece a Igreja e
a Aliança com Deus, “assim realizam a vocação à santidade dirigida a todos os
batizados” (CEC, n. 941).
Para
corresponder perfeitamente ao chamado, é preciso dar uma resposta livre,
consciente e desprendida de interesses pessoais. É imprescindível o fato de que
a vocação significa para o cristão, o caminho que Deus lhe dá para a
santificação – vocação à santidade e à missão de evangelizar o mundo (cf. CEC,
n. 1533). Portanto, é necessário corresponder à altura, como dizia São João
Calábria; dar o melhor de si, dos seus dons, tendo como ponto de partida, o
Amor: quem não ama a vocação que abraçou, certamente está no caminho de
santificação errado. “Deus, que criou o homem por amor, também o chamou ao
amor, vocação fundamental e inata de todo o ser humano” (CEC, n. 1604).
Porque somos imagem e semelhança d’Aquele que é amor (cf. 1Jo 4,8). Vocação é,
portanto, um compromisso de amor, uma Aliança de forma pessoal, e ao mesmo
tempo comunitária, com Aquele que chama a cada um pelo nome, como chamou os
doze Apóstolos (cf. Lc 6), dizendo como disse a muitos: “Vem e segue-me!”.
Como
é belo ver as diversas formas de servir a Cristo, unidas em um só propósito, a
santidade, “sede santos, porque eu sou santo” (1Pd 1,16), porque todo batizado
tem como meta e chamado primordial, a santidade. Para nos ajudar nisso, faz-se
necessário buscarmos conhecimento naqueles que já alcançaram a plenitude da
Aliança com Deus, homens e mulheres que ao longo de dois mil anos de
cristianismo, souberam, já aqui na terra, ter uma vida de intimidade com
Cristo: santos, beatos e pessoas em processo de canonização, cujas virtudes
heroicas já foram reconhecidas pela Igreja.
Assim
afirma Santa Gianna: “De viver bem a nossa vocação aqui na terra depende a
nossa felicidade terrena e eterna”. Essa frase vai ao encontro daquela, que
corriqueiramente se diz, quando o assunto é o chamado de Deus: “vocação
acertada, vida feliz”. Isso para dizer que a vocação é meio de realização e
felicidade, tanto aqui na terra, quanto a felicidade eterna. “Deus chama-nos –
afirma o catecismo –, à sua própria felicidade. Esta vocação dirige-se a cada
um, pessoalmente, mas também ao conjunto da Igreja” (CEC, n. 1719),
sendo este, o fim último dos atos humanos.
Certa
vez, um jovem da Argentina sentia um forte desejo de ser padre, mas a sua mãe
sempre se opunha, insistindo que ele fosse advogado, pois este era o sonho
dela: ter um filho advogado. Então, o jovem de temperamento forte, focado no
que queria, fez a faculdade de advocacia, obteve o diploma e imediatamente
entregou à sua mãe, dizendo: “agora tens um filho advogado. Vou para o
seminário!”. Tornou-se padre, posteriormente foi sagrado bispo. Em outra
ocasião uma religiosa de idade avançada estava comemorando seu aniversário,
após o canto dos parabéns, uma irmã mais jovem perguntou: “Irmã, conte para
nós, quando a senhora decidiu ser freira?”, ela prontamente respondeu: “Hoje!
hoje eu decidi.”. Vale-nos esses dois exemplos para vermos como o chamado de
Deus é sincero e imutável, ou seja, Ele nos dá um propósito de vida. O jovem
nos ensina que é preciso ouvir, entender e corresponder ao chamado de Deus, sem
hesitar; e a irmã nos mostra que todos os dias devemos dizer “sim”, renovando
nossa decisão.
Em
suma, tratando-se de vocação enquanto chamado, compete a nós ouvirmos e
correspondermos à Deus, de acordo com a vocação que abraçamos. Em cada uma
delas há um vasto horizonte para vivenciar na prática a aliança, a santidade. Ressaltando,
que é preciso acolher, também, os desafios e dificuldades advindas de cada uma.
Para melhor viver o chamado, é indispensável a participação do vocacionado, nos
sacramentos da confissão e comunhão, pois esses, fortalecem o propósito, e nos
aproximam cada vez mais do Criador. Procedendo assim, o cristão começa a
experimentar, já aqui na terra, a vocação universal dos filhos de Deus: plenitude
da Aliança, tema do próximo – e último –, artigo da série Aliança
Compromisso de Amor.
Para
aprofundar mais o tema, recomendo a leitura do breve livro escrito pelo Mons.
Jonas Abib, Vocação: Um Desafio de Amor. Bem como, a indispensável
leitura do Catecismo da Igreja Católica nos números que mencionam “Vocação” no
índice analítico. E ainda, a leitura de algum livro, da sua escolha,
correspondente a vida de um santo ou santa que você se identifique com a vocação
que essa pessoa se dedicou.
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