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    Testemunho Vocacional do Ir. Noivar Brustolin

    Ir. Noivar Brustolin nasceu em Farroupilha, Paróquia de São Marcos, capela da Assunta, Linha Jansen, aos 17 de março de 1951, filho de Primo Amadeu Brustolin e Aurora Marchet Brustolin. Quarto filho de sete, sendo 5 irmãos e 2 irmãs. Em 2020 completou 45 Anos de Vida Consagrada. Um história vocacional que merece ser contada... acompanhe!

    Testemunhos

    27.10.2021 08:45:21 | 14 minutos de leitura

    Testemunho Vocacional do Ir. Noivar Brustolin


     HISTÓRIA FAMILAR

     

     Venho de uma Família tipicamente de colônia italiana; formação católica e forte vínculo familiar, baseada na educação, nos afazeres do dia a dia, com propensão ao trabalho, assumindo responsabilidades proporcionais ao desenvolvimento humano, seguindo o princípio da subsidiariedade, isto é, o que o pequeno pode fazer deixa-o fazer. A família vivia da própria produção com bons resultados.

    A família observava rigorosamente as práticas cristãs com orações diárias, catequese e missas dominicais. Vivia em comunhão e boas relações com os vizinhos e parentes.

    Frequentei uma escola local até o 4º. ano primário. Ao findar esta etapa escolar, manifestei desejo de entrar no seminário, com a intenção de ser padre. A família sempre apoiou e, nesse sentido, a mãe foi procurar um seminário. Porém, devido à pouca idade não fui aceito. Desta forma, os pais propuseram de frequentar o 5º. ano na Vila Jansen, mesmo que fosse um tanto distante de casa (3 Km), e devia ir sozinho.

    No mês de setembro de 1964, visitou a escola o Pe. Antônio Leso – PSDP. Passando nas salas de aula, cantou, conversou e pediu o que cada um pensava fazer na vida e no próximo ano. Distribuiu uma folha fazendo algumas perguntas, para que se identificassem. À tarde, chegou na casa dos meus pais, Pe. Antônio juntamente com o pároco, Pe. Maximiliano Benini para conhecer a família. Pediu se queria fazer um estágio no final do ano em Caravaggio, pois no dia 08/12/1964, os Pobres Servos se instalariam nessa localidade. Aceitei, e durante os dias 14 a 24 de dezembro, fiz o estágio. Mandaram uma comunicação aos pais, dizendo que, se quisesse entrar no seminário era para retornar dia 22 de fevereiro de 1965. Entrei, gostei, mesmo com um pouco de saudades, fiquei e não saí mais. Mais tarde a família se transferiu.

     

    HISTÓRIA VOCACIONAL (CHAMADO)

     

    Em minha família vivia-se de fé, oração, participação aos sacramentos e catequese, falava-se muito de religiosos, padres, irmãos, missões...Os pais, particularmente a mãe, que era a líder da casa, dizia que seria feliz se tivesse um filho padre ou irmã e dizia a todos, se todos quisessem ir estudar para ser padre ou irmão ou irmã, os pais apoiariam. Como de fato aconteceu, minha irmã mais velha entrou no colégio das Irmãs Carlistas e ficou até o noviciado, mas não professou. O irmão que vinha a seguir, tentou com os irmãos Lassalistas, mas não vingou, a seguir vinha minha outra irmã, mas ficou pouco tempo, pois tinha pena da mãe em casa com muitos filhos e a mais velha foi para o colégio. Quando chegou minha vez, também queria ir para o Seminário. Os demais todos foram e ficaram um tempo no seminário de várias congregações. Só um o Wilson ficou no nosso seminário e deixou no meio do nível médio.

     

    - Como surgiu minha vocação? Quais foram os primeiros sinais?


    O primeiro momento que lembro, em que desejei ser padre, foi num momento que estava sozinho. Na roça onde morávamos, todos os dias tinha que conduzir as vacas para um potreiro que ficava no alto de um morro, longe mais ou menos 1 km. Naquele dia tocou a mim este serviço. Conduzi as vacas no local estabelecido e a seguir, um tanto cansado, deitei na relva e olhando para as nuvens que giravam, fiquei meditando: a vida passa, e depois da morte vem o Céu ou o inferno, para sempre. E fiquei repetindo, sempre, sempre, sempre. Pensei: tem que viver bem para ir ao céu. O que posso fazer para ir para o céu? Veio-me a ideia de ser padre. E guardei comigo por um bom tempo e lá pelas tantas falei com a mãe e ela gostou e apoiou. Quando chegou na hora ela foi a procura de um seminário, que na primeira tentativa não me aceitaram por ser muito novo.

    Lembro quando minha mãe me comunicou que não iria para o seminário. Estava na roça, lanchando. Eu protestei, chorei e afirmei que não iria na escola na Jansen por ser muito longe e devia ir sozinho. A mãe para me consolar, disse-me: “mas isso se pode resolver. Nós vamos te comprar uma bicicleta”. Como ela sabia que gostava de bicicleta, eu aceitei na hora e ficou acertado o programa para o ano seguinte.

    Iniciei as aulas do 5º ano primário em março de 1964. Tudo seguiu tranquilo. Em setembro, não lembro o dia, apareceu na escola Pe. Antônio Leso, Pobre Servo, conforme relatado acima. No dia 08 de dezembro de 1964, dia que os Pobres Servos chegaram em Caravaggio oficialmente, houve missa solene no Santuário. Como estava prestes a ingressar no Seminário para fazer estágio, juntamente com a mãe, fomos na missa em Caravaggio. Antes da missa fomos fazer uma visita à casa onde funcionaria o seminário dos Pobres Servos e que possivelmente entraria nos dias seguintes. Fomos recebidos pelo Pe. Gino Gato. Apresentamo-nos e a mãe disse que na próxima semana entraria no seminário para o estágio. Pe. Gino logo me pediu: “Para que vens no seminário?” Eu prontamente respondi: “Para ser padre!”. Ele me retrucou: “não caro!” Fiquei vermelho por ter sido reprovado no primeiro teste. Mas ele me tranquilizou e disse: “Se tu vens no seminário é para conhecer e fazer a vontade de Deus. Se esta for a vontade de Deus, então poderás entrar e ser padre.” Eu fiquei só escutando e olhando um tanto inseguro. Ele me apresentou a outros religiosos, Pe. Pedro Cunegatti, Ir. Francisco Cornale. Foi nos mostrando a casa e falando do projeto dos Pobres Servos.

    No final do estágio de dez dias Pe. Gino deu uma cartinha para entregar ao pároco e uma para a família com as indicações sobre a data do retorno, roupa para trazer, com o número, etc.

    Dia 22 de fevereiro de 1965, dia do aniversário do meu pai, ele me levou, a cavalo, até o Seminário de Caravaggio e ingressei e não sai mais! Os primeiros meses foram duros, a saudade batia. Sentia fome, pois estava acostumado a comer algo a toda a hora e no seminário era proibido. Mas aos poucos fui tecendo relações de amizade com alguns, criando o próprio grupo de amigos. Os mais velhos às vezes gozavam e nos davam apelidos, mas fomos superando as dificuldades. Lembro quando foi a primeira visita dos familiares. Vieram de camionete (Ford F100), quando a vi de longe, quase me deu um enfarte, pulei e comecei a chorar de alegria e emoção. Chegaram, abraçamo-nos, conversamos, e ficamos umas horas juntos. Trouxeram algumas frutas e um dinheirinho, e algo para o Seminário e foram embora. Esta visita me sustentou por alguns meses. Chegou a hora das férias de julho. Fui para casa a pé, pelos atalhos das roças, mas quase correndo de vontade de chegar em casa e rever os pais e irmãos (ãs), além dos amigos.

    No mesmo ano, a Congregação estava fazendo um projeto para construir um seminário maior em Caravaggio. Os superiores ficaram sabendo que os Irmãos Maristas estariam vendendo a sua casa do noviciado na proximidade de Farroupilha. Em julho, ao voltarmos das férias, o Pe. Gino nos comunicou, que aquela seria a nossa nova casa. Em 08/12/1965, tomamos posse. Nessa casa conclui o Ginásio e os 3 anos do Científico, este frequentado em Caxias do Sul; O primeiro ano, no colégio Cristóvão de Mendonça e o 2º e 3º. Ano, no colégio Santa Catarina, ambos colégios públicos.

    Um fato que lembro antes de sairmos para as férias. O Pe. Gino nos reuniu e nos fez as devidas recomendações para as férias e que rezássemos. Insistiu para que rezássemos de maneira particular por uma intenção que era de nosso interesse e que no retorno ele nos diria qual era o motivo para que rezássemos. De fato no início de agosto, no mesmo dia que chegamos, vimos ele chegar no seminário, com a Toyota dos Irmãos Maristas, juntamente com o Provincial, Ir. Jaime Biasus, tio de um de nossos colega seminarista; chegaram, entraram, fizeram um reunião e depois saíram. À tardezinha, o Pe. Gino nos reuniu, pediu como foram as férias, se trabalhamos muito, se rezamos muito, se rezamos na intenção que ele pediu... e no final nos disse: “Vocês conhecem aquela casa grande que tem lá no início da estrada que vem para Caravaggio? Lá onde às vezes aos domingos vocês iam jogar bola? Todos: ‘sim’! Pois então, este era o motivo que pedia para vocês rezarem, aquela casa, no próximo ano, será nossa”! Foi um grande aplauso. Eu lembro, como um dos mais pequenos, 13 anos, levantei a mão e pedi: “Também os campos de futebol”? Também, respondeu Pe. Gino. Mais um aplauso. A turma de 72 seminaristas saíram todos felizes.  De fato, no dia 08 de dezembro, exatamente um ano após chegarem em Caravaggio, ingressamos no novo e grande seminário, que até hoje moramos.

    Em pouco tempo o seminário ficou cheio. Eram120 seminaristas, mais os religiosos. Para não ficar todos juntos com idades diferentes, os superiores dividiram o grande grupo em 4 grupos (Vencedores, Lutadores, Conquistadores e Pioneiros), conforme a idade e destinaram um educador, ou assistente a cada grupo, com a ajuda de seminaristas mais velhos. Assim formaram-se grupos, de aproximadamente 30 seminaristas e este era o grupo de referência, com o assistente responsável. E toda a programação era feita juntos: rezar, estudar, trabalhar, jogar, passear, etc. Tudo era muito bom.  Particularmente as noites de galpão, que os maiores, os Pioneiros, construíram e os superiores apoiaram e partilharam este espaço, uma noite cada grupo. Eram momentos inesquecíveis, onde se desenvolvia a criatividade, artes, piadas, jogos, cantos, comidas típicas. Uma bela noite, o galpão que era de capim, incendiou e foi tudo em cinzas.

    Quanto à formação, no início, aqui no seminário ficavam os seminaristas, ou seja, aqueles que tinham intenção de serem padres e os assim chamados “Aspirantes”, os que desejavam ser irmão, dirigiam-se a Porto Alegre, onde tinha um grupo de irmãos, que trabalhavam nas oficinas e acompanhavam estes jovens e estudavam na casa que funcionava no colégio para alunos externos e os internos frequentavam aquela escola. Lembro que tinha uns 10-12 jovens. Que às vezes nós visitávamos. Aos poucos este grupo foi se integrando com os seminaristas e desapareceu está separação. Isto aconteceu, sobretudo, quando os seminaristas do nível médio ou segundo grau, foram para Porto Alegre. Tornando-se um único grupo e uma única equipe formativa.

     

    Concluído o Científico, fui para Porto Alegre iniciar a Filosofia, no Seminário Maior de Viamão. Concluído o segundo ano de Filosofia, fiz o pedido para fazer o noviciado e fui aceito, iniciando no dia 02 de fevereiro de 1974.

     

                SOBRE A OPÇÃO DE SER IRMÃO RELIGIOSO E NÃO PADRE

     

    A minha mudança de seminarista com intenção de ser padre para ser irmão ficou bem definida na primeira semana do noviciado. Mas esta decisão ou orientação foi sendo amadurecida desde muitos anos antes e esclarecida aos poucos.

    Uma decisão ou convicção eu já a amadureci desde jovem, mais precisamente quando estava cursando o Científico, tinha em torno do 20 anos. Eu me sentia bem na casa, sentia que era a minha casa, as pessoas eram meus irmãos e amigos, os superiores eram meus irmãos maiores ou meus pais. Lembro que durante o científico, fazíamos a chamada ‘direção espiritual’. Eu questionava com Pe. Pedro e dizia: “eu me sinto bem. Gosto de estar na casa, mas sinto que não é meu “metier” o sacerdócio, não me vejo fazendo este trabalho, também admiro, respeito e acho uma missão fantástica, mas não é para mim”. O Pe. Pedro me dizia: “mas isto vem aos poucos, não te preocupes, vai em frente”. Eu segui nas etapas de estudo e na caminhada vocacional. Terminei o Científico, fui para Filosofia, como todos. Nestes dois anos, estudava Filosofia e trabalhava nas oficinas ou ajudante do economato, motorista, e tudo que precisava fazer. E me sentia bem! Tive muitos contatos com os irmãos que trabalhavam no Calábria: Ir. Gino Fochesato, Ir. Rino Coradin, Ir. Franco Zerbinatti, Ir. Francisco Cornale, Ir. Mário de Cristófaro, Ir. Tomazo Contaldo... Todas pessoas de muito trabalho e felizes da vida. Foi muito gratificante estar com eles pois criamos uma relação de irmãos e amigos. Era a minha família, meus irmãos. Isto foi bom, mas também um problema, pois quando entrei no noviciado, mudou radicalmente o clima, passei a ser seminarista, com restrições, proibido fazer muitas coisas, tinha que pedir licença para fazer qualquer coisa fora do programado. Inclusive a decisão de me consagrar como irmão não foi tão fácil, pois me diziam; se fosse passar de uma decisão de ser irmão para ser padre, isso sim, mas de padre para irmão, isto não era bem vista. Tivemos muitas e muitas conversas, e eu não conseguia convencer o mestre das minhas convicções. Lá pelas tantas, já era setembro, tempo de fazer os pedidos para a profissão, eu continuava decidido a me consagrar a Deus, mas não para o sacerdócio. Lá pelas tantas, eu disse ao mestre; “ou me aceita como irmão, ou eu não professo, não me sinto de continuar para ser padre”. Ai o clima mudou, recebi todo o apoio, me foi dito que fui questionado para testar, se estava mesmo convencido, e daí em diante tudo foi simples e fácil, aliás me senti ainda mais entusiasta pela escolha. Mas para não me sentir seguro demais, eu disse que no primeiro ano seria de prova, para ver como me sentia. Os superiores aceitaram, mas eu até me esqueci que tinha ficado de experiência. Nunca mais tive dúvida e sempre mais me senti chamado e entusiasta pela escolha e pelo chamado, ao menos até agora que estou chegando perto dos 45 anos de profissão.

    Relato aqui um episódio ocorrido no dia da primeira profissão religiosas. Após a solenidade da profissão, como de costume, fomos almoçar juntamente com familiares e religiosos presentes no evento. Estava almoçando com meus familiares, e percebi que de uma outra mesa, bastante longe, o Irmão Francisco Cornale, olhava-me com frequência. Pela relação que tínhamos, sabia que quando me olhava, ele tinha algo a me dizer. Lá pelas tantas, levantei-me e fui até ele e lhe disse, em italiano: “Cosa cé fratello? Cosa hai da dirmi”? E ele ficava em silêncio e me olhava, com um olhar fixo e penetrante. Eu insistia: “dimmi fratello, cosa cé”? Ai, ele balbuciando algumas palavras me disse: “Epure... Epure... Sono 12 anni, che prego tutti i giorni, per questo giorno...” (Pois é!.. Pois é!... , são 12 anos que rezo todos os dias por este dia...). Inicialmente nem tinha entendido o significado das suas palavras. Até brinquei com ele; hoje é um dia como todos os outros, o que tem de especial? Ai ele me traduziu o significado de suas palavras: “Sono 12 anni que prego tutti i giorni, perchè Il Signore, mandi vocazioni di fratelli nel Opera in Brasile” (São 12 anos, que rezo todos os dias, para que o Senhor mande vocações a irmãos na Obra no Brasil). Ai eu me comovi e lhe dei um abraço e choramos juntos.

     

    HISTÓRIA DA MISSÃO:

     

    - Realizada a primeira profissão, o que fazer para dar continuidade à formação acadêmica?


    Para os clérigos era simples: teologia; mas para os irmãos, já que era o primeiro irmão no Brasil, não tinha um programa definido. Conversamos muito, mas não se chegou de imediato a um consenso no que fazer. Como primeira missão fui para o Centro de Orientação Vocacional de Porto Alegre. Ocupava-me da economia da casa e iniciei o cursinho pré-vestibular, sem saber para qual curso iria frequentar. Neste entretempo, conversando com os superiores, chegou-se à conclusão de fazer algum curso que se relacionavam com os cursos profissionalizantes que funcionavam no Centro Social Calábria. Como tinha muitas oficinas relacionadas com a mecânica, acabei fazendo vestibular para Engenharia Mecânica e ingressei em agosto de 1975. Pessoalmente tinha também uma segunda intenção: era um período que se falava muito de missão: Nigéria, Índia, Filipinas. Em alguns países era difícil o visto de residência como religioso ou missionário. Ai pensei: quem sabe, se não for possível entrar como missionário, posso entrar como profissional.

    Acabada a faculdade, deixei a área da mecânica e fui enviado para Restinga, na administração da Creche e Centro de Promoção do Menor, hoje CPIJ.

    Mesmo que nossa formação era muito religiosa e espiritual, minha motivação era muito forte na área missionária, assistência e atenção aos pobres. Desde cedo, fomos motivados e lançados nos meios pobres e isto motivava muito. Mesmo que no fundo nossa motivação era por Jesus Cristo, mas Cristo encarnado nos pobres. Tínhamos alguns fundamentos no Evangelho, ou na Doutrina Social da Igreja, como por exemplo a passagem bíblica que escolhemos na primeira profissão: “Ninguém há que tenha deixado casa, irmãos ou irmãs, pai, mãe... e no século futuro a vida eterna” (Mc. 10,29-31). Esta Palavra ainda está no meu projeto de vida e alimenta o agir de cada dia.


    Veja também o vídeo (Conte a sua Vocação):


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