Milagre reconhecido pela Igreja para causa de beatificação de João Calábria
"Esse projeto de caridade, humanamente paradoxal, tão audaz, tão confiante, tão singular, não pode deixar de impressionar e de induzir a dar graças a Deus, que suscitou no meio de nós tal testemunha de confiança sem reservas na palavra do Evangelho." (João Paulo II)
Espiritualidade Calabriana
06.04.2024 07:15:00 | 7 minutos de leitura

Esse milagre dera-se com um lenhador de 72 anos, casado e sem filhos, que vivia em Capadócia, província de Aquila. Chamava-se Libório Testa e estava morrendo de cirrose hepática.
Em 12 de novembro de 1957, o pobre Libório "fora internado com urgência no hospital de Tagliacozzo pelo seu médico municipal, porque", testemunhou o mesmo médico no processo, "afetado por cirrose hepática com hidropisia". No hospital, os médicos lhe tinham aplicado todas as terapias para o caso, e o pobre Libório, num gesto de piedade, em 24 de dezembro, foi mandado para "morrer" em sua casa, depois de lhe terem aplicado a oitava e última paracentese, com a qual, como nas anteriores, tinham-lhe tirado entre dez e doze litros de água.
Apenas chegado em casa, o ventre voltara a inchar desmesuradamente, de forma a impedir-lhe a função respiratória. Na impossibilidade de o levarem para sua cama, no primeiro andar da velha e fria casa de Capadócia, a 1.000 metros de altitude, juntaram algumas cadeiras no andar térreo, perto da lareira acesa, e ali o deitaram.
Ao pobre Libório, sem nenhum tratamento, nada mais restava senão esperar a morte.
Mas a mulher, no desespero, teve a feliz ideia de pedir socorro a uma amiga, a senhora Florinda Romani. Esta, como numa inspiração, disse-lhe: "Por que não recorremos ao padre Calábria? Ele é um santo! É o único que pode nos ajudar. Aqui no lugarejo, durante o verão, sempre aparecem seus Bons Meninos".
Estamos na noite de 27 de dezembro de 1957. Colocam-lhe sobre o corpo um santinho do padre Calábria com uma relíquia e começam a recitar a oração que se encontra estampada no verso, para obter a cura por sua intercessão.
Deixemos agora ao próprio miraculado contar o que aconteceu.
"Depois de um certo tempo, senti vontade de fazer uma necessidade", contou o curado no Processo, "e, para minha admiração e dos presentes, notei que a barriga tinha esvaziado e desaparecera o sufoco. Recuperei as forças, sentindo-me como se nunca tivesse tido coisa alguma. Eu e minha mulher nos olhamos no rosto e, chorando de alegria, minha mulher dizia-me: levante-se, levante-se, o padre Calábria está lhe dando a graça! E realmente me estava dando, tinha-me feito vê-la com os próprios olhos!"
De então por diante, Libório não sentiu mais nada e retomou seus trabalhos de lenhador, não poupando fadigas nem se preocupando com a dieta alimentar. Ele morreu de trombose cerebral em 24 de fevereiro de 1968, com 83 anos de idade.
Os médicos escolhidos pela Congregação para as Causas dos Santos para examinar este caso, na consulta médica de 2 de julho de 1986, depois de um atento exame das fichas clínicas e dos pareceres dos médicos que tinham tido o doente sob seus cuidados, declararam que essa cura imprevista, perfeita e duradoura, de uma doença que devia levar fatalmente à morte, não podia ser explicada cientificamente.
E os teólogos censores, reunidos em assembleia especial, no dia 19 de dezembro, examinada toda a documentação relativa ao caso, consideraram a cura um "milagre" feito por Deus por intercessão de padre Calabria.
Em 16 de março de 1987, finalmente o papa João Paulo II ordenou a leitura do Decreto que declarava o acontecido como um milagre, abrindo assim o caminho para a beatificação do padre João Calábria.
A beatificação
A beatificação foi proclamada na majestosa e solene moldura do estádio Bentegodi de Verona, em 17 de abril de 1988, por Sua Santidade João Paulo II.
O papa já a tinha anunciado com uma Carta apostólica que começava com uma frase de são Paulo, muito querida ao padre Calábria: "O que é estulto diante do mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraco diante do mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes; e o que é vil e desprezível conforme o mundo, Deus o escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são" (1 Cor 1,27-28). E acrescentou: "Essas palavras de são Paulo são muito apropriadas para apresentar a figura de João Calábria, do qual o bispo de Verona, dom Bartolomeu Bacilieri, ao admiti-lo ao subdiaconato, tinha dito: 'Admitimos muitos clérigos doutos, admitamos também um piedoso. Na casa do Pai há muitas moradas".
Padre Calábria tinha bem fincada no coração a convicção de ser "zero e miséria", de ser um "miserável", de "nada valer", de ter sido escolhido por Deus como casante de sua Obra, justamente para demonstrar ao mundo que a Obra não era do padre Calábria, mas sim de Deus. Muitas vezes ele tinha repetido: "o povo irá interrogar-se: 'Quem é que está lá em cima, naquela colina sobre Verona, em São Zeno do Monte?' 'Padre Calábria!', responderão. 'Padre Calábria? Ah, então estamos certos de que aquela Obra é de Deus, porque nós o conhecemos bem e sabemos que ele não vale nada mesmo!"".
Assim pensava e escrevia o santo sacerdote veronês.
E o papa, beatificando-o, exaltou este "zero e miséria" diante da Igreja de Verona e do mundo inteiro, chamando-o de "testemunha". Testemunha de quê? Ouçamos suas palavras:
Padre João Calábria é uma testemunha que deixou um marco profundo na vossa Igreja: testemunha da caridade para com os pobres, de zelo pelas almas, de intenso amor a Deus.
Experimentado na pobreza, como sabeis, porque nascido de família paupérrima, auxiliado ele próprio pela caridade no período de seus estudos, amou sobremaneira os meninos pobres, os órfãos, os abandonados. Sua experiência tinha-lhe proporcionado especial sensibilidade e capacidade para abordar os jovens distanciados da fé, desprovidos de ajuda, necessitados sobretudo de calor familiar.
Foi justamente a singular e vasta experiência da pobreza que suscitou nele a confiança ilimitada na Providência de Deus. Ele chamou sempre de "Obra de Deus" suas iniciativas e suas fundações. Sabe-se que desde a juventude ele ficara fortemente impressionado com as palavras do Evangelho: "Não vos angustieis pelo alimento e vestuário, pois o vosso Pai celeste bem sabe do que precisais. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, a todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo" (Mt 6,33). Com esse ânimo, ele denominou sua família religiosa de "Pobres Servos da Divina Providência", confiando a seus filhos espirituais a tarefa de irem até lá "onde nada há de humano a esperar".
Esse projeto de caridade, humanamente paradoxal, tão audaz, tão confiante, tão singular, não pode deixar de impressionar e de induzir a dar graças a Deus, que suscitou no meio de nós tal testemunha de confiança sem reservas na palavra do Evangelho.
Mas, do padre Calábria precisamos ainda lembrar seu amor pela Igreja. Sua queixa dos últimos anos de vida, como é notório, era, por assim dizer, um reflexo da angústia do Crucificado pelas almas. Ele considerava como voz de Deus aquele suspiro tão insistente: "A minha Igreja, a minha Igreja". Desse amor sofrido pela esposa de Cristo nasceu no padre Calábria a dedicação aos padres e religiosos. Vós vos lembrais ainda de seus apaixonados, sofridos, corajosos apelos às autoridades eclesiásticas, aos religiosos e aos padres em dificuldades, para pedir a todos uma radical renovação de vida, um retorno vigoroso à apostolica vivendi forma [forma de viver dos apóstolos]. Essa mensagem ao clero e às pessoas consagradas não deve ser esquecida. Vossa Igreja tem a tarefa e a herança de mantê-la viva e testemunhá-la com generosidade e vigor em nosso tempo.
O amor à Igreja também suscitou no padre Calábria o empenho pela unidade dos cristãos. Ele rezou por esse objetivo, teve contatos de amizade com membros de outras Igrejas e comunidades eclesiais, ofereceu a abadia de Maguzzano como sede da seção italiana da Catholica Unio. Por meio de suas cartas, nota-se claramente sua intuição de que a plena comunhão dos cristãos passa por um caminho importante, aquele que procura envolver todo o povo de Deus no desejo e na busca da unidade desejada por Cristo.
GADILI, Mario. SÃO JOÃO CALÁBRIA, Biografia oficial. Paulinas. p. 540-545
"Depois de um certo tempo, senti vontade de fazer uma necessidade", contou o curado no Processo, "e, para minha admiração e dos presentes, notei que a barriga tinha esvaziado e desaparecera o sufoco. Recuperei as forças, sentindo-me como se nunca tivesse tido coisa alguma. Eu e minha mulher nos olhamos no rosto e, chorando de alegria, minha mulher dizia-me: levante-se, levante-se, o padre Calábria está lhe dando a graça! E realmente me estava dando, tinha-me feito vê-la com os próprios olhos!"
Padre João Calábria é uma testemunha que deixou um marco profundo na vossa Igreja: testemunha da caridade para com os pobres, de zelo pelas almas, de intenso amor a Deus.
Experimentado na pobreza, como sabeis, porque nascido de família paupérrima, auxiliado ele próprio pela caridade no período de seus estudos, amou sobremaneira os meninos pobres, os órfãos, os abandonados. Sua experiência tinha-lhe proporcionado especial sensibilidade e capacidade para abordar os jovens distanciados da fé, desprovidos de ajuda, necessitados sobretudo de calor familiar.
Foi justamente a singular e vasta experiência da pobreza que suscitou nele a confiança ilimitada na Providência de Deus. Ele chamou sempre de "Obra de Deus" suas iniciativas e suas fundações. Sabe-se que desde a juventude ele ficara fortemente impressionado com as palavras do Evangelho: "Não vos angustieis pelo alimento e vestuário, pois o vosso Pai celeste bem sabe do que precisais. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, a todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo" (Mt 6,33). Com esse ânimo, ele denominou sua família religiosa de "Pobres Servos da Divina Providência", confiando a seus filhos espirituais a tarefa de irem até lá "onde nada há de humano a esperar".
Esse projeto de caridade, humanamente paradoxal, tão audaz, tão confiante, tão singular, não pode deixar de impressionar e de induzir a dar graças a Deus, que suscitou no meio de nós tal testemunha de confiança sem reservas na palavra do Evangelho.
Mas, do padre Calábria precisamos ainda lembrar seu amor pela Igreja. Sua queixa dos últimos anos de vida, como é notório, era, por assim dizer, um reflexo da angústia do Crucificado pelas almas. Ele considerava como voz de Deus aquele suspiro tão insistente: "A minha Igreja, a minha Igreja". Desse amor sofrido pela esposa de Cristo nasceu no padre Calábria a dedicação aos padres e religiosos. Vós vos lembrais ainda de seus apaixonados, sofridos, corajosos apelos às autoridades eclesiásticas, aos religiosos e aos padres em dificuldades, para pedir a todos uma radical renovação de vida, um retorno vigoroso à apostolica vivendi forma [forma de viver dos apóstolos]. Essa mensagem ao clero e às pessoas consagradas não deve ser esquecida. Vossa Igreja tem a tarefa e a herança de mantê-la viva e testemunhá-la com generosidade e vigor em nosso tempo.
O amor à Igreja também suscitou no padre Calábria o empenho pela unidade dos cristãos. Ele rezou por esse objetivo, teve contatos de amizade com membros de outras Igrejas e comunidades eclesiais, ofereceu a abadia de Maguzzano como sede da seção italiana da Catholica Unio. Por meio de suas cartas, nota-se claramente sua intuição de que a plena comunhão dos cristãos passa por um caminho importante, aquele que procura envolver todo o povo de Deus no desejo e na busca da unidade desejada por Cristo.
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