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    Maria: nova Arca da Aliança

    Série de artigos sobre ALIANÇA: COMPROMISSO DE AMOR

    Artigos

    26.01.2022 10:01:37 | 8 minutos de leitura

    Maria: nova Arca da Aliança


    Jairo Ferreira de Melo, postulante Psdp.


    Daremos agora um grande salto na história da salvação – dentro da perspectiva apresentada na série: Aliança: compromisso de amor. No artigo anterior falamos de Moisés e o Decálogo, sendo assim, poderíamos dedicar a atenção às alianças sequentes que Deus foi firmando até o início do Novo Testamento. Mas a ideia central deste artigo é “preparar o terreno” para a Nova e Eterna Aliança, de modo que a série não fique muito extensa. Se para as tábuas da Lei, foi preciso a Arca da Aliança para guardá-la; para a própria Aliança vir ao mundo, foi preciso de um Tabernáculo Puro, que é a Virgem Maria, a Nova Arca da Aliança, e a ela será dedicado este artigo.

    Com o passar do tempo, no Antigo Testamento, Deus foi preparando o seu povo para a chegada de Seu Filho. Por essa razão, encontra-se na vida de Jesus cumprimentos de revelações e profecias presentes nas sagradas escrituras. Quanto à Maria, sua mãe, encontramos algumas alusões referentes a Ela, a saber: quando o Senhor diz à serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Ela te esmagará a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.” (Gn 3,15); no livro do Profeta Isaías: “Pois sabei que o Senhor mesmo vos dará um sinal: Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel.” (7,14); nos livros de Sofonias e Zacarias que apresentam passagens semelhantes: “Exulta, alegremente, ó filha de Sião, porque eis que venho morar em teu meio.” (cf. Sf 3,14; Zc 2,14). Entre outras.

    Historicamente, a Bíblia nos traz os primeiros relatos concretos de Maria, a partir da anunciação do Anjo. Mas a Igreja, em sua sabedoria, com a Santa Tradição nos coloca que Ela já havia sido pensada por Deus para ser a mãe do Salvador, desde o princípio, assim como vemos na profecia do Gênesis. Por essa razão ela é conhecida como a “nova Eva”. Se por Eva, o pecado entrou no mundo, por Maria entrou a Salvação. De fato, o Filho de Deus assume a condição humana conforme afirma a carta aos Gálatas: “nascido de mulher” (4,4). E como deveria ser a mãe de Jesus? O Catecismo da Igreja Católica nos responde: “preservada de toda mancha do pecado original e, durante toda vida terrestre, por graça especial de Deus, não cometeu nenhuma espécie de pecado.” (n. 412). Daí surge seu título: Maria concebida sem pecado original.

    Maria é em todos os quesitos de santidade, a primeira: pobre, casta, obediente, dotada de todas as virtudes, em grau máximo ao que um ser humano pode alcançar. Ao considerar isso, a Igreja, bem como nós católicos, não a colocamos acima de Jesus, mas, como Ela mesmo afirma: “Todas as gerações me chamarão bem-aventurada, pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor.” (Lc 1,48-49). É evidente que se Ela dispõe de tamanha graça, não é por sua causa, mas porque Deus assim o quis. Sendo assim, Maria Santíssima ocupa lugar de destaque na devoção cristã, como afirma o Papa Paulo VI: “A piedade da Igreja para com a Santíssima Virgem é intrínseca ao culto cristão.”  Este culto, diz o Catecismo, se difere essencialmente do culto de adoração à Santíssima Trindade (cf. n. 971). Seguindo o grau de honraria, Maria está abaixo da Santíssima Trindade – que recebe o culto de latria, adoração; e acima dos santos – que recebem o culto de dulia, veneração; sendo assim, cabe a ela, receber o culto de hiperdulia – veneração maior em relação aos santos. Entretanto, São Luís de Montfort, no Tratado à Virgem Maria, deixa claro que Jesus é o fim último de todas as devoções, caso contrário elas seriam falsas e enganadoras. 

    Sem mais delongas, vamos introduzir a sua participação no projeto salvífico, e porque Ela é importante. Tudo começa com a saudação angélica: “Alegra-se, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1,28). No primeiro momento ela não entende o significado da saudação, então o anjo lhe acrescenta: “Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e o chamarás com o nome de Jesus.” (Lc 1,30-31). A dúvida de Maria, no entanto, era como ela daria à luz um filho se não conhece homem algum, de fato, o anjo Gabriel estava diante de uma virgem prometida em casamento (cf. Lc 1,27). Todavia, não foi por meio humano, mas pela ação do Espírito Santo que o anúncio se concretizou. E Maria, em sua humildade responde: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo tua palavra!” (Lc 1,38). Maria aqui é vista como cooperadora, escolhida por Deus desde toda eternidade (cf. CEC, n. 488).

    Este evento inaugura o tempo previsto para a economia da salvação. Um dado interessante de se observar é a forma como o salvador do mundo, Deus feito homem, assume a condição humana. Enquanto o povo judeu esperava uma chegada triunfante, de um libertador – no sentido político –, um rei com suas honrarias, eis que Ele vem, gerado no seio virginal de uma jovem, judia, filha de Israel, nascida na humilde Nazaré da Galileia. Entretanto, esta jovem dotada de virtudes responde com obediência e fé, com a certeza de que para Deus nada é impossível (cf. CEC, n. 494); e foi ainda mais enriquecida com dons dignos para tamanha missão (cf. CEC, n. 490).

    A presença de Maria na economia da salvação só tem sentido porque ela desempenha sua missão, justamente, com e para seu Filho. Na festa de sua natividade, a liturgia nos coloca que ela é a aurora da salvação, pois, dela veio ao mundo o Sol da justiça, este evento marca a Encarnação do Verbo (Lc 2,5-6). Também ela está presente em diversos momentos importantes da vida de Jesus: apresentação no templo (Lc 2,22-38); perda e encontro no templo (Lc 2,48); bodas de Caná, onde Jesus realiza seu primeiro milagre público (Jo 2,1); durante sua vida pública (Mt 12,46); desde o início de sua condenação até a morte na cruz (Jo 19,25).

    Com o passar do tempo, a Igreja Católica, em sua sabedoria, foi reconhecendo e transmitindo a fé que recebera dos Apóstolos. Com isso, foi atribuído à Maria quatro dogmas, que em matéria de fé o católico deve crê, a saber:

    1. Maternidade divina, Maria mãe de Deus (Theotokos). Desde os primeiros séculos se tinha essa devoção, sendo oficializado no Concílio de Éfeso (ano 431). Maria é a mãe de Deus, porque Jesus é Deus.
    2. Virgindade Perpétua de Maria, os padres da Igreja já tinham essa convicção, inspirados nos textos bíblicos e na tradição que receberam dos Apóstolos. O que foi se confirmando ao longo do tempo. A palavra grega “aeiparthenos”, quer dizer “sempre virgem”.
    3. Imaculada Conceição, a Virgem Maria não teve pecado original. Esta devoção já existia, mas veio a ser oficializada no dia de 8 de dezembro de 1854, com a Bula papal Ineffabilis Deus, pelo Papa Pio IX.
    4. Assunção de Nossa Senhora em corpo e alma ao céu, este dogma foi definido pelo Papa Pio XII, com a Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, em 1950: “A Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, terminada o curso da vida terrestre foi assunta em corpo e alma à glória celestial”.

    Sem sombra de dúvidas, Maria é importante para o projeto de Deus, que quis salvar o gênero humano, e se utilizou de uma simples mulher de Nazaré para tal. Todavia, São Luís afirma: “Deus reuniu todas as águas e deu nome de mar, reuniu todas as graças e deu o nome de Maria”. Maria, porém, como sabemos, em nada diminui o brilho de Jesus – Sol da Justiça –, mas é como a lua que carece também desse brilho para resplandecer e mostrar sua Beleza. Nossa Senhora é a seta perfeita que aponta para Cristo: caminho, verdade e vida.



    Para aprofundar:
    Caro leitor, salve Maria! Se você se interessou pelo tema e busca se aprofundar, recomendo-lhe a leitura do Tratado da Verdadeira Devoção À Santíssima Virgem, escrito por Luís Maria Grignion de Montfort. Nele se encontra um caminho perfeito para o caminho de devoção à Virgem, bem como, o modo de se preparar para fazer a Total Consagração à Jesus Cristo, por meio de Maria. Totus tuus ego sum mariae et omnia mea tua sunt (Sou todo teu, Maria, e tudo o que é meu é teu).

    [1] Paulo VI, Ex. Ap. Marialis cultus, 56: AAS 66 (1974).

    [1] MONTFORT, São Luís M. G. de. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem Maria. São Paulo: Paulinas; Paulus, 2017. p. 37.


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