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    Entrevista com o Casante, Padre Miguel Tofful

    Neste Domingo, 1º de maio, as Congregações Pobres Servos e Pobres Servas da Divina Providência iniciarão os Capítulos Gerais em Maguzzano - Itália, com sete dias de retiro. Os exercícios espirituais marcarão o início deste momento significativo para a Família Calabriana.
    Entrevistamos o Casante, Padre Miguel, que esteve à frente da Congregação nos últimos 14 anos. Ele partilha sua história vocacional e como viveu esta missão confiada por Deus. Acompanhe!

    Espiritualidade Calabriana

    30.04.2022 08:00:00 | 11 minutos de leitura

    Entrevista com o Casante, Padre Miguel Tofful


    A Ponte: O senhor foi eleito Superior Geral no X Capítulo Geral que aconteceu em Farroupilha-RS. Poderia nos contar sua história vocacional e missionária?

    Casante: Antes de mais nada, gostaria de agradecer à equipe editorial da revista A Ponte por me oferecer a oportunidade de partilhar com todos os leitores a minha experiência como Casante da Obra nesses 14 anos.

    Sou grato ao Senhor que me fez conhecer a Obra e me chamou para a Vida Religiosa e sacerdotal nela. É um grande presente que somente no Paraíso seremos capazes de entender e compreender o verdadeiro significado.

    Quando criança, depois de fazer a minha primeira comunhão, senti algo em meu coração que foi amadurecendo ao longo do tempo no discernimento da vontade de Deus.

    Entrei na Casa Nazareth, em Reconquista (Argentina), em 22 de fevereiro de 1982, faltavam três dias para completar 16 anos. Era uma casa de formação (COV) onde os jovens eram ajudados a realizar processos de discernimento vocacional. Entrei com a convicção de que Jesus me chamava, mas ainda não conhecia claramente a minha vocação.

    O processo vocacional me ajudou particularmente a descobrir a vontade de Deus em plena liberdade, como é característico nas casas vocacionais da Congregação. No final do Ensino Médio, eu já tinha muito claro que o Senhor estava me chamando para consagrar minha vida na Congregação dos Pobres Servos. Expressei meu desejo em relação a essa escolha fazendo o pedido para ingressar no Noviciado.

    Em 1987 fiz o Noviciado em Farroupilha-RS e, em 1º de janeiro de 1988, fiz minha Primeira Profissão Religiosa como Pobre Servo, com apenas 21 anos. Foi um dia significativo na minha vida e me senti muito feliz porque Jesus tomava toda a minha vida no auge da minha juventude e a consagrava a Si mesmo.

    Como religioso recém-professo, fui inserido novamente na comunidade de formação de Reconquista para ajudar na assistência aos jovens em formação e ocupar-me com os aspectos práticos da Casa por dois anos.

    Em 1990, fui a Montevidéu (Uruguai) para iniciar a Filosofia e Teologia, ao mesmo tempo em que estive envolvido na educação de crianças de rua na "Obra Don Calabria". Foram anos maravilhosos da minha vida porque, além de continuar minha formação espiritual e teológica em direção ao Sacerdócio, me senti plenamente realizado como um Pobre Servo religioso a serviço dos mais pobres e mais abandonados, que é uma das principais missões da Obra.

    Em 1995 fui ordenado sacerdote e assim meu coração se tornava cada vez mais de Jesus, identificando a minha vida como Pobre Servo e sacerdote para sempre. Os sentimentos profundos desses momentos da vida não podem ser descritos em palavras. Desde o início, olhei para o coração das palavras de São João Calábria: "Sacerdote de espírito apostólico, disposto a tudo". "Sacerdote, outro Cristo". O meu lema sacerdotal sempre foi o serviço, identificando-me com a frase do Evangelho: "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (Jo 10,10). Esse desejo de ser portador da vida em abundância que Jesus dá, sempre foi meu grande ideal sacerdotal.

    Após minha ordenação sacerdotal, continuei a trabalhar com os meninos por mais um ano, sentindo-me plenamente realizado em minha vocação de serviço no meio deles. Enquanto frequentava o curso de Especialização em Teologia, fui responsável, sempre em Montevidéu, por uma área pastoral confiada à nossa Congregação. Foram anos muito bonitos e um grande crescimento no zelo pelas almas.

    Em 1999, pediram que fosse responsável pela comunidade de Buenos Aires, acompanhando os aspirantes e postulantes, coordenando a atividade social desenvolvida nessa realidade e inserido no trabalho pastoral, principalmente nos finais de semana, na grande Paróquia "Nuestra Señora de la Paz", com mais de cem mil habitantes. Esses anos também foram lindos e meu coração como Pobre Servo consagrado e sacerdote crescia cada vez mais no amor a Jesus e no relacionamento com muitas pessoas.

    Meu sonho quando escolhi me juntar à Congregação era a missão. Eu tinha um grande desejo de dar toda a minha vida na proclamação do Evangelho, mesmo fora da minha terra natal. Chegou o dia em que, no final de 2003, um telefonema do então Casante, Pe. Waldemar Longo, solicitou minha disponibilidade para a missão das Filipinas. Não duvidei nem um momento para dizer "Sim", aqui estou, estou disponível. E assim na semana anterior à Semana Santa, em abril de 2004, parti com grande alegria para as Filipinas.

    Eu não conhecia o lugar, não sabia para onde estava indo, mas tinha certeza de uma coisa: o Senhor a quem dediquei minha vida estava lá e essa era a minha força, minha certeza e tudo. Uma grande responsabilidade estava me esperando, porque eles me confiaram a tarefa de ser o responsável pela Missão. Nos anos em que estive nas Filipinas, tive experiências maravilhosas, além de me dedicar a acompanhar os Irmãos e a Missão. Realizei missão pastoral na paróquia, acompanhei um grupo de noviços por um ano, fui responsável por atividades sociais nos subúrbios de Manila e muitas outras coisas que a disponibilidade e o amor por Jesus me levaram a amar meu próximo e dar minha própria vida.

    Eu estava nas Filipinas quando participei do X Capítulo Geral no Brasil, representando a missão, e naquela ocasião fui eleito Casante da Obra, no dia 11 de abril de 2008.


    A Ponte: Como acolhestes esta missão?

    Casante: Sinceramente, não esperava uma missão assim tão grande. Eu era muito jovem e não tinha todo o conhecimento da Obra nos diferentes países do mundo. Minha disponibilidade sempre me levou a aceitar a vontade de Deus sem nunca dizer "não" ao seu projeto de amor. Não duvidei em aceitar a vontade de Deus, apesar da minha pequenez e minhas limitações. Sentia-me realmente zero e miséria.

    Imediatamente coloquei-me em uma atitude de humildade, porque entendi que o Senhor e a Congregação estavam me confiando uma missão maior do que eu, que excedia minhas capacidades humanas. Foi com essa atitude de humildade, serviço e disponibilidade que eu aceitei. Imediatamente pedi aos meus coirmãos que me haviam escolhido e as pessoas que se reuniam na Capela em Farroupilha, naquele momento, para invocar o Espírito Santo e agradecer ao Senhor, colocassem as mãos sobre a minha cabeça. Ajoelhado diante de Jesus, um por um, irmãos, irmãs e leigos presentes invocaram o Espírito Santo sobre mim. A partir daquele momento, senti uma força extraordinária. Não foi apenas um gesto, minha vida e meu coração ficaram profundamente tocados. Em 2014, após a segunda vez em que fui escolhido, eu quis que o mesmo gesto fosse feito e novamente senti essa força extraordinária.

    Sempre que penso no momento da eleição em 2008 e da renovação em 2014, isso não me parece verdade e sou muito grato ao Senhor por esse grande dom e por quanto é constante a presença Dele em minha vida.

     

    A Ponte: Quais são os aspectos do Carisma que mais foram trabalhados, evidenciados durante o seu governo?

    Casante: É muito difícil destacar aspectos do Carisma mais desenvolvidos durante o meu mandato, porque o Casante tem a missão de vigiar sobre todos os aspectos do Carisma e ser um “pai” desta grande Família.

    Apesar dessa dificuldade, poderia identificar alguns aspectos do Carisma que considerava importante destacar e que estão particularmente próximos ao meu coração, procurando sempre ser um promotor destes valores essenciais, entre muitos outros. O espírito de fé, confiança e abandono na Divina Providência. A busca da santidade como o único meio de ser Evangelhos vivos. O estilo de vida de simplicidade e amor pelos pobres. Redescobrir e conceber cada vez mais a Obra como uma Família. O espírito de pertença e o “intuitu operae”. A Reparação como um mandato divino para a nossa Obra. O Discernimento da vontade de Deus. A Radicalidade Calabriana e a profecia do nosso Carisma no mundo de hoje.

    Sempre senti a necessidade de confrontar-me com o pensamento de nosso Fundador, São João Calábria, aprofundando seus escritos e tentando traduzi-los através de minhas cartas no momento atual da Obra. Esse foi o objetivo de traduzir seus pensamentos e as suas inspirações, não repetir o que ele fez, mas encarná-lo de um modo novo no mundo atual. As vezes consegui outras vezes encontrei mais dificuldades.

     

    A Ponte: Quais foram os maiores desafios ao longo desses 14 anos de missão à frente da Congregação?

    Casante: Sou grato a Deus que me e nos conduziu com Seu amor providente e guiou a Obra com amor infinito em todos esses anos, porque é Obra Dele. Sempre me coloquei em uma atitude de diálogo e escuta para poder perceber as necessidades mais profundas que emergiam das diferentes realidades da Obra, mesmo que nem sempre tenha sido fácil.

    Não faltaram dificuldades e desafios nestes anos que sempre vivi serenamente e confiado nas mãos de Deus Pai. Se eu tiver que fazer uma lista, destacaria alguns desafios particularmente entre muitos outros: o desafio dos abandonos da vida consagrada e sacerdotal na Congregação. A dificuldade, apesar dos percursos de formação, de uma autêntica radicalidade Calabriana e de uma autêntica vida espiritual. O desafio da formação em todos os níveis, tanto inicial quanto permanente. A dificuldade muitas vezes para levar no coração os "pesos" que fazem parte dos que têm uma responsabilidade como essa. A dificuldade em alguns ambientes de ver que algumas escolhas podem nos distanciar do espírito puro e genuíno da Obra. O compromisso de dialogar com todas as culturas em que estamos presentes, sem ter preconceitos com o único objetivo de fazê-las se sentirem amadas. Abordar a questão da dívida e uma reorganização da administração dentro da Congregação com princípios e critérios carismáticos. Os últimos dois anos de pandemia e adiamento do Capítulo Geral foi difícil no início mais também um tempo providencial para amadurecer um caminho que hoje estamos vivendo e fazendo juntos como familia calabriana.

    Apesar desses desafios, a Divina Providência sempre foi uma mãe carinhosa e nunca falhou.

     

    MENSAGEM DO CASANTE AOS JOVENS

    Sou grato a todos os jovens que estão presentes nas diferentes realidades da Família Calabriana. A todos vocês que tiveram a graça de encontrar, conhecer e entrar em contato com o espírito de São João Calábria, encorajo-os a viver sua vida na busca da vontade de Deus.

    Desde sua juventude, São João Calábria tinha um desejo muito grande de santidade e ajudou muitos jovens a encontrar o seu caminho e a resposta ao chamado de Deus na Igreja, como religiosos, religiosas, sacerdotes e leigos.

    O segredo da felicidade de cada pessoa é a descoberta da vontade de Deus, ou seja, aquele que é o sonho de Deus para cada um de nós. Particularmente para vocês jovens, está em vossas mãos esta possibilidade de colocar-vos continuamente à escuta e busca da vontade de Deus através da oração, ouvindo a Palavra de Deus e no serviço concreto e generoso aos pobres. Não tenham medo de gastar a vossa vida pelos outros, porque sois corajosos e cheios de potencialidades. Saibam que o amor sempre vence.

    Nos tantos caminhos e propostas de felicidade que o mundo oferece hoje através dos meios de comunicação em que vocês estão conectados todos os dias, há um espaço de relacionamento e contato não virtual que enche o coração de alegria. É o contato direto com as pessoas, a partilha e a ajuda recíproca. Isso se chama amor verdadeiro. Esse amor verdadeiro nós o podemos encontrar no Homem pleno e Deus, Jesus de Nazaré, em sua pessoa e em seus sonhos para a humanidade.

    Também você jovem é uma pessoa que pode encarnar o seu estilo de vida, a sua paixão e a sua missão pela humanidade.

     

    MENSAGEM DO CASANTE À FAMÍLIA CALABRIANA

    Meus sinceros agradecimentos a toda a Família Calabriana pelo amor, pela proximidade e oração com que sempre me acolheram e me apoiaram em minha missão. Eu realmente senti isso como um bálsamo de vida interior muito forte que continuamente me confortava e me animava.

    Pude apreciar e tocar com a minha mão quantos religiosos, religiosas e leigos vivem e transmitem diariamente o Carisma Calabriano nas diferentes culturas em que estamos presentes e são um sinal visível desse dom que recebemos de graça e que devemos conservar em nossos corações, comunicando-o gratuitamente.

    Agora diante de nós abre-se um caminho a percorrer com o desafio do próximo Capítulo Geral, que através de um estilo sinodal estamos vivendo e com o tema que enfrentaremos com a profecia da comunhão, nos levará a vislumbrar novos horizontes para a Obra. É muito lindo e maravilhoso poder fazer este caminho juntos, religiosos, religiosas e leigos para discernir o “sonho de Deus” para a Família Calabriana.

    Meu convite a todos vocês, membros da Família Calabriana, é de poder conhecer, aprofundar, viver e testemunhar cada vez mais este carisma que é de uma atualidade extraordinária. Isso nos permite envolver-nos todos na busca contínua de uma maior partilha espiritual entre nós e um testemunho através da atenção à pessoa que é fundamental para tornar o Carisma cada vez mais vivo e atual.

    Coragem! Convido todos a não pararem no processo que iniciamos, com a certeza de que Deus faz novas todas as coisas e nos convida cada dia a viver uma fidelidade criativa ao Evangelho e ao Carisma.

     

    Padre Miguel Tofful

     

     

     

     

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