Bispos da Amazônia reforçam urgência de ações ambientais e sociais em reunião no Ministério do Meio Ambiente
Proteger a Amazônia é proteger a casa comum e garantir dignidade a seus povos.
Notícias
01.04.2025 16:51:43 | 5 minutos de leitura

Em um momento crítico para o futuro da região amazônica e seus povos, os bispos da Amazônia se reuniram na noite da segunda-feira, 31 de março, com representantes do Ministério do Meio Ambiente, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A reunião, realizada em Brasília, integrou uma agenda de incidência política promovida pela Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e teve como foco a grave crise socioambiental e climática que assola a Amazônia brasileira.
Representando os bispos da Amazônia, estiveram presentes o bispo de Roraima e presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam-Brasil), dom Evaristo Spengler; o arcebispo de Palmas e vice-presidente da rede, dom Pedro Brito Guimarães; e o bispo da prelazia de Marajó e secretário da Repam-Brasil, dom Ionilton Lisboa. Também participaram da reunião o secretário-geral da CNBB, dom Ricardo Hoepers; o subsecretário adjunto geral, padre Leandro Megeto; e a secretária executiva da Repam-Brasil, irmã Irene Lopes.
Durante o encontro, os representantes eclesiais apresentaram um diagnóstico atualizado da situação vivida nos territórios amazônicos, fruto de escutas realizadas junto às comunidades locais ao longo de 2023. Com base nesse levantamento, denunciaram a ausência de medidas eficazes para proteger as populações tradicionais e enfatizaram que “o olhar sobre as riquezas da Amazônia tem sido maior do que o olhar sobre as pessoas que nela vivem”. A fala dos bispos foi um apelo contundente por justiça socioambiental e por uma transição justa rumo a um modelo de desenvolvimento sustentável.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reafirmou o compromisso do governo em manter um diálogo aberto e construir soluções concretas para os desafios apresentados. Destacou, entre as medidas em curso, o fortalecimento dos órgãos ambientais com a abertura de concursos públicos para o Ibama e o ICMBio, além da ampliação da presença do Estado na região amazônica como forma de enfrentar o avanço do desmatamento, do crime ambiental e do garimpo ilegal.
Desafios urgentes e perspectivas para a região amazônica
A reunião também abordou temas estruturantes como a infraestrutura na região, a conjuntura da Amazônia no contexto da próxima Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) e os mecanismos de financiamento climático. A Repam-Brasil destacou o agravamento da emergência climática, evidenciado por eventos extremos como secas prolongadas, queimadas e alterações nos regimes dos rios, que impactam diretamente a vida das populações amazônicas.
Foram apresentados dados alarmantes sobre a qualidade do ar nas cidades amazônicas — atualmente as piores do Brasil —, devido principalmente às queimadas e ao uso intensivo de combustíveis fósseis. Em 2023, o número de sensores de monitoramento da qualidade do ar foi ampliado de poucas unidades para 127, revelando um quadro preocupante para a saúde pública na região.
Outro ponto crítico debatido foi a contaminação por mercúrio, causada pelo garimpo ilegal, que afeta o solo, a água e até mesmo o sangue de diversas populações ribeirinhas e indígenas. O monitoramento, realizado com o apoio do Ibama e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), trouxe evidências científicas que ainda não têm a visibilidade pública necessária para gerar políticas de enfrentamento eficazes.
Os participantes também destacaram a urgência da criação de um plano federal de contingência diante da seca extrema que atinge a região amazônica, com efeitos já percebidos em outras regiões do país. Para isso, o governo tem articulado diferentes setores com o objetivo de construir estratégias integradas que respondam aos impactos ambientais cada vez mais severos.
A COP30 e os desafios do financiamento climático
Em relação à COP30, que será sediada em Belém do Pará, os bispos e representantes da Repam enfatizaram a necessidade de garantir que os compromissos assumidos internacionalmente se traduzam em ações concretas no território amazônico. Um dos grandes obstáculos destacados é o financiamento climático: enquanto especialistas apontam para a necessidade de US$ 1,3 trilhão anuais para países vulneráveis, a COP29 conseguiu apenas US$ 300 bilhões, evidenciando a distância entre o discurso e a prática.
A posição dos Estados Unidos foi apontada como um entrave importante, mas os participantes demonstraram esperança de que a crescente pressão social e internacional possa levar a uma postura mais proativa por parte daquele país. A Repam defendeu uma abordagem integrada, que leve em conta não apenas as metas climáticas globais, mas também a realidade concreta dos povos que habitam a Amazônia, com seus modos de vida, espiritualidade e direitos ancestrais.
Compromisso com a justiça socioambiental
Ao final da reunião, os representantes do governo reafirmaram o compromisso de manter o diálogo com a Igreja e com as populações amazônicas, reconhecendo o papel central que elas desempenham na defesa do bioma. A Repam-Brasil seguirá mobilizando esforços e articulando parcerias para garantir a justiça socioambiental na região.
O encontro foi um sinal de esperança, mas também um alerta: é preciso transformar o clamor da Amazônia em políticas públicas eficazes, que reconheçam a sacralidade da vida humana e da criação. Como afirmaram os bispos presentes, “proteger a Amazônia é proteger a casa comum e garantir dignidade a seus povos”. A caminhada é longa, mas o tempo para agir é agora.
Com informações e foto site da CNBB.
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