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    A Liturgia das Horas: os salmos e sua relação com a oração cristã.

    Seguindo nossa reflexão sobre a Liturgia das Horas, trazemos mais um artigo sobre o tema. O orante manifestar, através dos salmos, em profundidade seus sentimentos. Acompanhe!

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    20.07.2021 09:09:10 | 6 minutos de leitura

    A Liturgia das Horas: os salmos e sua relação com a oração cristã.


    Irmão Rafael Pedro Susrina, Psdp.

    Na estrutura da oração da Liturgia das Horas a presença dos salmos é significativa. Os salmos com seus belíssimos hinos, inspirados pelo Espírito Santo aos autores sagrados do Antigo Testamento, tornam-se fonte de oração. Já que pela “sua própria origem, os salmos tem a virtude de elevar até Deus a mente das pessoas, despertar nelas piedosos e santos afetos, ajuda-las maravilhosamente e agradecer na prosperidade e dar-lhes, na adversidade, consolo e fortaleza de ânimo.” (Instrução Geral da Liturgia das Horas, n. 100).

    A palavra ‘Salmo’, vem do grego ‘saltério’ que significa “oração cantada e acompanhada de instrumentos musicais”. Por isso se diz que os salmos não são leituras, nem orações em prosa, mas poemas de louvor, ‘cânticos de louvor’, ou ‘cânticos acompanhados ao som do saltério’. Na verdade, todos os salmos possuem carácter musical, que determina o modo como devem ser executados. E assim, mesmo quando o salmo é recitado sem canto, ou até individualmente ou em silêncio, a sua recitação terá de conservar este carácter musical (cf. IGLH, n. 103).

    O cristão que salmodia sabiamente percorre versículo a versículo, meditando um após outro, de coração sempre pronto a responder como o quer o Espírito que inspirou o salmista. O próprio Espírito assiste, também agora, os homens piedosos que estão dispostos a receber a sua graça através da oração dos salmos. Eis o motivo por que a salmodia, embora exija a reverência devida à majestade divina, deve desenrolar-se na alegria do coração e doçura da caridade, como convém à poesia sacra e ao canto divino e sobretudo à liberdade dos filhos de Deus. Não rezada de qualquer forma, como algo do passado, sem vida, mas, sim, com entusiasmo, expressão da presença de Deus ao longo da história da humanidade.

    Através dos salmos as pessoas conseguem manifestar em profundidade seus sentimentos: alegrias, tristezas, esperanças, desânimos, clamores... e muitas vezes por essa variedade de experiencias espirituais muitos não se sentem bem em reza-los, principalmente na própria Liturgia das Horas. Por sentirem que o salmo proposto para o momento orante não coincide com a motivação e o animo pessoal que se está vivendo. Por isso é importante esclarecer que “as palavras do salmo podemos muitas vezes orar com mais facilidade e fervor, seja dando graças e louvando a Deus com alegria, seja suplicando-o desde as profundezas de nossas angústias. Mas pode também, por vezes, surgir alguma dificuldade sobretudo quando o salmo não se dirige diretamente a Deus” (IGLH, n. 105). É que o salmista, como poeta que é, se dirige ao povo a recordar-lhe a história de Israel; outras vezes, são outros que ele interpela, inclusive as próprias criaturas irracionais; outras ainda, introduz a falar Deus e os homens, ou até com os próprios inimigos de Deus. Com isso torna-se evidente que o salmo não é uma oração do mesmo estilo que as preces ou uma oração composta pela Igreja. Pois, com sua índole poética e musical, os salmos não se dirigem necessariamente a Deus, mas sim que sejam cantados na presença de Deus.

    Aquele que salmodia abre o coração aos sentimentos que o salmo inspira, consoante o gênero literário de cada um deles: canto de lamentação, de confiança, de ação de graças... isso acontece graças a sua origem histórica. A qual, cada salmo possui um sentido literal que não deve ser menosprezado nos dias atuais. “Embora esses poemas tenham sido compostos, há muitos séculos, por orientais, expressam muito bem as dores e esperanças, a miséria e a confiança dos seres humanos de qualquer época ou nação, sobretudo a fé em Deus, e cantam a revelação e a redenção” (IGLH, n. 107).

    A oração da Liturgia das Horas, como já dito inúmeras vezes, por meio da salmodia, não reza sozinho ou em nome próprio, mas sim em nome de todo o Corpo Místico de Cristo, e até na pessoa do próprio Cristo. Se tivermos isto em conta, desaparecem as dificuldades que possam surgir para quem salmodia, caso os seus sentimentos íntimos se sintam em desacordo com os afetos expressos num salmo. Por exemplo: quando uma pessoa triste e angustiada se depara com um salmo de jubilo, ou, ao contrário, quando a alguém que se sente feliz aparece um salmo de lamentação. Na oração estritamente privada, esta discordância pode evitar-se, uma vez que pode escolher um salmo mais condizente com os sentimentos pessoais. Mas esse não é o caso, pois no Ofício Divino, a salmodia não tem caráter privado, mesmo que alguém recite as Horas canônicas sozinho; o ciclo dos salmos, oficialmente estabelecido, é recitado em nome da Igreja. “Quem salmodia em nome da Igreja, poderá sempre encontrar motivos de alegria ou tristeza, porque também a isto se aplica a passagem do Apóstolo: ‘alegrar-se com os que se alegram e choram com os que choram’ (Rm 12,15)” (IGLH, n. 108). Deste modo, a fragilidade humana, ferida pelo amor próprio, recupera a saúde pela caridade que faz com que o espírito concorde com a voz de quem salmodia.

    Todo aquele que salmodia em nome da Igreja deverá captar o sentido pleno dos salmos, particularmente o sentido messiânico, pois foi este o que levou a Igreja a adotar o Saltério. “Este sentido messiânico tornou-se plenamente manifesto no Novo Testamento e foi enfatizado pelo próprio Cristo Senhor, que disse aos Apóstolos: ‘era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos (Lc 24,44)’” (IGLH, n. 109). Nesta mesma ordem de ideias, os Santos Padres admitiram e explicaram todo o Saltério como profecia referente a Cristo e à Igreja. E é dentro deste mesmo critério que os salmos têm sido utilizados na sagrada Liturgia.

    Os salmos se tornaram a oração do novo povo de Deus, e por isso se encontram na Liturgia das Horas, evidenciando a profundidade e abrangência desta oração cristã. Torna-se importante falar que assim como o Espírito Santo inspirou os salmistas a cantar os salmos, não deixa nunca de assistir com a sua graça aqueles que, animados de fé e boa vontade, salmodiam estes sagrados hinos. Além de ser necessário adquirir uma formação bíblica, para melhor saborear e compreender os salmos, e assim fazer da salmodia a oração pessoal em nome da Igreja, acolhendo todos os frutos que vierem desta salutar prática.

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