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    A aliança no Sinai: a lei divina transforma o coração humano

    Série de artigos sobre ALIANÇA: COMPROMISSO DE AMOR

    Artigos

    21.12.2021 09:00:00 | 9 minutos de leitura

    A aliança no Sinai: a lei divina transforma o coração humano

    Jairo Ferreira de Melo, postulante PSDP

    Estamos no quarto artigo da série: “Aliança: compromisso de amor” ; nos artigos anteriores baseamo-nos principalmente no livro do Gênesis para ver como Deus foi se manifestando, e firmando Sua aliança de amor, justiça e fé, desde a criação do mundo e Seu plano primário – a comunhão perfeita no Eden: “Criação: Deus viu que tudo era muito bom” ; à recriação após a queda e decadência da humanidade, pelo dilúvio, como também, uma aliança duradoura com a descendência de Abraão: “De Noé a Abraão: uma aliança imutável” . Nas linhas seguintes daremos um passo importante para a nossa temática central, tendo como base o livro do Êxodo, falaremos da aliança no Sinai e do Decálogo – revelação feita por Deus à Moisés, das leis eternas, próprias da natureza humana. Deus escreve na pedra sua lei para recordar ao ser humano o que esqueceu em seu coração. Este tema abrange várias dimensões da fé cristã, tais como: mandamentos, justiça, misericórdia, pecado e reconciliação.

    Antes de propriamente falar da revelação dos mandamentos, vejamos de forma resumida quem foi Moisés. Certamente você lembra da história de um menino retirado das águas, envolto em um cesto, que foi criado pela filha do Faraó, que cresce e foge para Madiã, depois de matar um egípcio, onde tem um filho com Séfora, filha do sacerdote de Madiã (cf. Ex 2,1-22). Após a morte do rei do Egito, o povo lamenta o peso da servidão, e eleva o clamor a Deus, lembrando da Aliança feita com Abraão, Isaac e Jacó (cf. Ex 2,23-25). Eis que entra Moisés nessa realidade: ao pastorear as ovelhas de seu sogro, o anjo de Javé lhe aparece sobre o monte Horeb. Era como uma sarça ardente que não se consumia. Deus se apresenta do meio da sarça como “EU SOU”, e lhe revela a sua missão: ir ao Faraó para libertar o Seu povo da escravidão no Egito (cf. Ex 3). Este é o início da missão de Moisés e da nova promessa ao povo israelita.

    Deus liberta o povo da escravidão no Egito, e faz de Moisés líder de uma longa peregrinação rumo à Terra Prometida, Canaã. “Tomar-vos-ei por meu povo, e serei o vosso Deus” (Ex 6,7), disse Javé. Como o coração do Faraó estava endurecido, aconteceram as dez pragas do Egito (cf. Ex 7,8-12,34), e após esse e outros acontecimentos, o povo consegue permissão para a saída. No momento da saída, o Faraó revoga sua decisão e ordena as tropas egípcias que os perseguissem. Seguindo a ordem de Deus, Moisés levanta seu cajado diante do Mar Vermelho, abrindo o caminho em meio às águas, possibilitando a passagem dos hebreus. Javé ordena que Moisés estenda seu cajado novamente e as águas se fecham, fazendo afundar os soldados, cavalos e carros das tropas do faraó (cf. Ex 14). “Israel viu a proeza realizada por Javé contra os egípcios. E o povo temeu a Javé, e creram em Javé e em Moisés, seu servo.” (Ex 14,31). Então Moisés e os israelitas, entoaram o canto de vitória ao Deus que mais uma vez cumpre sua Aliança.

    Nesse processo de peregrinação à terra prometida temos a revelação dos dez mandamentos, que é o cerne da Aliança com Deus no Antigo Testamento: “Os mandamentos recebem seu significado no íntimo da Aliança” (Catecismo da Igreja Católica, n. 2057). Assim como Noé e Abraão, Moisés é um grande personagem bíblico, porque é a ele que Javé confia as leis que fundamentarão toda conduta cristã. Pois se trata de princípios embasados na lei natural, com a finalidade de conduzir o ser humano ao caminho da vida eterna, da liberdade. A revelação desta aliança é um acontecimento grandioso para toda a humanidade, o próprio Deus mostra-se face a face na montanha, do meio do fogo (cf. Dt 5,4), e faz que sua santa vontade seja conhecida. Esse evento expressa o anseio divino de congregar seus filhos num único propósito.

    Esta dádiva é concedida somente depois que Deus consulta o povo israelita. No primeiro momento Ele apresenta a proposta a Moisés: “Agora, se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade peculiar entre todos os povos, porque toda a terra é minha. Vós sereis para mim um reino de sacerdotes, uma nação santa.” (Ex 19,5-6). Ele poderia simplesmente dizer nesta ocasião tudo o que teria de revelar, no entanto, como numa forma de garantir e permitir que o ser humano use de sua liberdade, espera a resposta da “casa de Jacó”, que disse: “‘Tudo o que Javé disse, nós o faremos.’ E Moisés relatou a Javé as palavras do povo.” (Ex 19,8). O primeiro passo foi dado: para uma aliança ser perfeita e sincera, pressupõe-se o acordo entre as duas partes, e assim foi feito.

    Eis então que Javé pede a preparação do povo, conforme os costumes da época, para o momento da teofania – aparição que revela a divindade e o poder de Deus . Segundo o relato do Êxodo, Javé manifesta-se na montanha com sinais fortes, o Sinai fumegava e sua fumaça subia como numa fornalha ardente, ao passo que a montanha tremia violentamente entre trovões e raios acompanhados ao som da trombeta (cf. Ex 19,16-21). A manifestação do poder divino não vem para fazer o ser humano viver de forma restrita sua liberdade, mas é justamente o contrário, para fazer viver livre na totalidade, de acordo com sua própria natureza, criada a Sua imagem e semelhança; e mais ainda, para libertar-nos de todo aprisionamento consequente do pecado original e restituir a dignidade humana. “O exercício da vida moral atesta a dignidade da pessoa.” (CEC, n. 1706).

    Ao pronunciar o Decálogo, Nosso Senhor deixa claro que Ele é o único Deus. Sendo assim, os três primeiros mandamentos, conforme o Catecismo prescreve, demandam as exigências do Seu amor; ao passo que os outros sete, se referem ao amor ao próximo (cf. CEC, n. 2067). Com base nisso, a Tradição da Igreja Católica destacou, desde os primeiros séculos, a importância do uso dos dez mandamentos na preparação dos fiéis, com fórmulas rimadas, fáceis de memorizar, as quais conhecemos ainda hoje (cf. CEC, n. 2065). A maneira catequética de expressar os mandamentos procede da seguinte forma:

    1. Amar a Deus sobre todas as coisas;
    2. Não tomar seu santo nome em vão;
    3. Guardar domingos e festas de guarda;
    4. Honrar pai e mãe;
    5. Não matar;
    6. Não pecar contra a castidade;
    7. Não furtar;
    8. Não levantar falso testemunho;
    9. Não desejar a mulher do próximo;
    10. Não cobiçar as coisas alheias.

    A tradição bíblica nos mostra que os mandamentos foram escritos em duas tábuas de pedra, mas o Catecismo deixa claro: “As duas tábuas se esclarecem reciprocamente, formam uma unidade orgânica. Transgredir um mandamento é infringir todos os outros. Não se pode honrar os outros sem bendizer a Deus, seu criador. Não se pode adorar a Deus sem amar a todos os homens.” (CEC, n. 2069). É, portanto, a união da vida teologal e social do homem, ou seja, a lei divina transforma o coração humano. Nos capítulos 21, 22 e 23 do Êxodo vemos as consequências para cada transgressão das respectivas leis, conforme o sentido primário da aliança. A Igreja Católica é clara ao dizer que qualquer pecado contra os dez mandamentos é pecado mortal, que põe em risco a salvação da alma de quem o praticou. A não ser que o fiel se arrependa sinceramente e se reconcilie com Deus através da confissão.

    O conhecimento daquilo que está exposto nas “dez palavras” é intrínseco à natureza humana, colocado por Deus no momento da criação, são princípios próprios da nossa essência. É parte da consciência moral do homem fazer o bem e evitar o mal, e este conhecimento entre certo e errado dar-se o nome de Lei Natural. O ser humano tem a capacidade de reconhecê-los pela razão, mas o problema é que a humanidade pecadora precisava desta revelação. “Uma explicação completa dos mandamentos do Decálogo tornou-se necessária no estado de pecado, por causa do obscurecimento da luz da razão e do desvio da vontade” . Este obscurecimento se dá por consequência do pecado original, aprisionando os filhos de Deus na escravidão do “Egito interior”, o pecado. Por essa razão Santo Agostinho diz: “Sabei que também vós, que renunciastes a este mundo, saístes do Egito”.

    Seguramente, este tema nos renderia muito mais que um simples artigo. Como supracitado acima, a revelação do Decálogo constitui o centro da Aliança no Antigo Testamento. Todavia, continua sendo a base da vida moral, social e espiritual dos cristãos. Pois, perpassa gerações, guia povos, converte multidões; sendo plenificado em Jesus Cristo para chegar a cada um de nós como sinal concreto de que o Deus que se revelou a Moisés, manifesta-se ainda hoje, apesar do grande desvio, por parte da humanidade, de Suas leis. Ainda assim, temos a garantia de que é feliz o povo que obedece a seus mandamentos, e têm a Deus como Senhor (cf. Sl 33,12). A aliança, como vemos nesse caso, não é feita somente com Moisés, mas com todo o povo de Deus, isto é, cada um de nós em particular.

    Para aprofundar/refletir:

    Sem dúvidas existe muito conteúdo a se aprofundar acerca desse tema. Este artigo é apenas uma introdução com a finalidade de fomentar o interesse do leitor de buscar mais conhecimento de sua fé, e alimentar sua espiritualidade. Certamente poderíamos abordar cada mandamento separadamente, e cada um deles renderia um artigo. Mas isso o Catecismo da Igreja Católica já faz, de forma magistral. Sendo ele uma das fontes cristalinas da fé católica, recomendo-lhes a leitura da segunda seção (Os dez mandamentos n. 2052-2557), da terceira parte (A vida em Cristo). Sobre a vida de Moisés, mais detalhadamente, nada melhor que as fontes primárias, a leitura do livro do Êxodo.

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      Cf. MCKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. São Paulo: Paulus, 1983. p. 923.
      São Boaventura, In quattuor libros Sentenciarum, 3, 37, 1, 3: Opera omnia, v. 3 (Ad Claras Aquas 1887) p. 819-820.

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