117 Anos de Confiança na Providência: Uma Reflexão Inspirada na Carta de São João Calábria
Celebrar 117 anos da Obra dos Pobres Servos é renovar a confiança na Providência Divina e o compromisso de viver a caridade, a unidade e o espírito de abandono total a Deus.
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26.11.2024 09:00:00 | 9 minutos de leitura

Nesta carta profunda e inspiradora, São João Calábria reflete sobre os 25 anos de fundação da Obra dos Pobres Servos da Divina Providência, celebrando a Providência Divina que conduziu e sustentou essa missão ao longo do tempo. O fundador compartilha aspectos fundamentais do carisma, ao mesmo tempo em que nos exorta a vivermos com fidelidade e responsabilidade o espírito desta Obra.
Hoje, 26 de novembro, ao celebrarmos 117 anos de fundação, vemos quanto estas palavras permanecem atuais e ecoam em nossos corações, chamando-nos a um compromisso renovado com a missão de ser "luz e salvação" para o mundo.
As exortações de São João Calábria nos convidam a refletir sobre nossa caminhada, reafirmando a confiança na Providência Divina e a fidelidade às Constituições que guiam nossa vida e missão. Somos chamados a viver a caridade em sua plenitude, fortalecer a unidade entre irmãos e cultivar uma vida de oração e entrega total a Deus.
Assim como o fundador destacou, a Obra é uma manifestação viva da Providência, sendo capaz de iluminar as mentes e converter os corações ao serviço de Deus. Hoje, como Família Calabriana, somos herdeiros dessa missão, convidados a manter a chama desse carisma acesa, alimentada pelo amor de Deus, pela fé e pelo espírito de abandono filial na Providência.
Entre os principais pontos destacados na carta, encontramos:
1. Gratidão e Reconhecimento à Providência: São João expressa uma profunda gratidão pelos favores recebidos ao longo dos anos, reconhecendo que tudo é fruto da vontade de Deus e de Sua misericórdia.
2. Responsabilidade pela Obra: Ele enfatiza que a continuidade e o crescimento da Obra dependem do compromisso e fidelidade de cada membro, comparando a missão a um trem ou navio que leva almas ao encontro de Deus.
3. Centralidade do Espírito de Fé e Piedade: São João reforça a importância das práticas de piedade, como a celebração devota da Santa Missa, o cumprimento das Constituições e a oração comunitária, que sustentam espiritualmente a missão.
4. Unidade e Caridade na Vida Comunitária: A caridade, descrita como a base da vida comunitária, é apresentada como indispensável para o bom andamento da Obra, enquanto murmurações, críticas e invejas são apontadas como obstáculos à missão.
5. Fé inabalável na Providência: Ele sublinha que, mesmo nas provações, a confiança em Deus e a fidelidade às Regras devem ser inabaláveis, garantindo que a Providência Divina sempre sustentará a missão.
6. A Obra como Luz e Salvação: São João reafirma que a existência da Obra é em si um testemunho vivo do amor de Deus, iluminando e transformando vidas, levando almas da escuridão à graça divina.
Por fim, São João Calábria, com humildade e ardor, conclama todos nós a renovarmos nosso compromisso com Deus e com a missão, mantendo acesa a chama do carisma.
Que estas palavras sejam para nós um farol que ilumine o nosso compromisso diário e nos inspire a buscar sempre o Reino de Deus em todas as nossas ações.
Segue a carta na íntegra:________________________________________
Carta de 26 de novembro de 1932
Caríssimos irmãos no Senhor,
Nos dias passados, por uma grande graça de Deus bendito, Dono absoluto desta Obra que se chama dos Pobres Servos da Divina Providência, assistimos com sentimentos de alegria e de reconhecimento às festas do seu jubileu. Há 25 anos a Providência, com olhar e cuidados muito especiais, quis fundar esta Obra para que seja luz e salvação para tantas e tantas almas; e é claro, pela nossa mente passaram grandes pensamentos.
Meditamos sobre toda a longa série de favores, de graças, de benefícios que o Senhor, durante esses 25 anos, derramou sobre essa sua Obra, sem considerar as demais graças, os demais dons, os demais benefícios que, por serem de ordem sobrenatural, não são por nós meditados e valorizados como aquilo que nós vemos e que se apresenta aos nossos sentidos.
No entanto é um fato que essa Obra, como várias outras vezes já lhes falei, nos desígnios de Deus cumpre estas maravilhas com a sua simples existência. Acreditem: a Obra é grande, aclara tantas e tantas mentes que vivem na escuridão e que, iluminadas por essa luz, correm para Deus, a Ele se doam e a Ele servem.
Essa Obra é uma voz contínua que chama tantos e tantos pobres irmãos nossos que estão à margem do caminho levando-os a pensar, a meditar; e assim os seus corações, enriquecidos pela graça divina, se dirigem das coisas caducas e míseras desta terra às coisas eternas do céu, convictos de que, se pensarem em Deus, em buscar o seu reino, a divina Providência lhes concede em acréscimo os meios e as coisas temporais. E não lhes parece, ó meus irmãos, que esta seja uma grande Casa nos desígnios da Providência?
Só no Paraíso poderemos entender, poderemos compreender o bem, os desígnios que o Senhor cumpriu por meio desta Obra; sim, e isso se nós vivermos segundo o espírito todo próprio e particular, o qual, tenho toda certeza, foi objeto de grandes meditações e fonte de novas e eficazes propostas neste 25o aniversário de fundação. É uma graça muito grande a que o Senhor nos fez chamando-nos a fazer parte desta sua grandíssima Obra, graça que Ele mesmo, o Senhor, coroou sensivelmente com a aprovação da sua Igreja.
Lembremo-nos todavia, ó meus queridos, que ao mesmo tempo pesa sobre nós uma grandíssima responsabilidade, pois somente de nós, unicamente de nós depende que essa Obra viva, prospere, se difunda, realizando o bem pelo qual a Providência divina a fundou.
Amados irmãos, o que lhes direi desta Obra? Ah, esta é um grandíssimo e perfeito trem! Não falta nada. Sobre esse trem, sobre esse navio, continuamente sobem viajantes que pedem para serem conduzidos ao porto. Oh, um maquinista que não faz o seu próprio dever, que não esteja atento, quanta responsabilidade, quanto estrago, quantas mortes poderá semear e com que castigos irá se deparar!
Irmãos meus, nós somos os maquinistas deste místico trem que o Senhor confiou a nós para que o guiemos. Que grande responsabilidade pesa sobre nós, que prestação de contas deveremos apresentar ao Senhor no dia do grande chamado e que castigo nos espera se, por nossa culpa, as almas não puderam viajar, se perderam!
Oh, queridos, neste momento eu rezo, suplico, eu por primeiro, que vocês pensem, que vocês vejam, se realmente estão vivendo, agindo, operando como Deus quer e como as nossas santas Constituições pedem, as quais peço que leiam seguidamente, que as tenham em sua mente e em seu coração.
Como tantas e tantas vezes já lhes disse e repeti: o nosso pensamento, o nosso empenho esteja somente em buscar o santo reino de Deus. Nada de ânsias, nada de preocupações, angústias, pensamentos com as coisas temporais. O nosso pensamento, o nosso cuidado esteja com a exata observância das nossas santas Regras, com a fidelidade perfeita quando se trata das práticas de piedade, de modo particular as da comunidade.
Deixem tudo, mas não deixem as práticas de piedade. Quando eu vejo que falta alguém, sinto um aperto no coração, pois vejo um desconcerto na Obra, vejo que o diabo rejubila, e que aquele coitado é enganado por uma falsa luz.
E para nós sacerdotes, grande espírito de fé no nosso ministério; na medida do possível, além disso, recomendo que o santo ofício seja rezado na igreja e comunitariamente. E quanto à santa Missa, oh, como se deve celebrá-la! Uma santa Missa devotamente celebrada, quanta riqueza poderá trazer para as nossas almas, para o nosso ministério, para a nossa Obra!
A isso acrescento uma ardente recomendação: que todos tenhamos grande caridade; sacerdotes e irmãos sejam um só corpo. Devemos ajudar-nos uns aos outros na realização, nesta grande Obra, da vontade de Deus.
Nos acontecimentos, nas provações, ver sempre Jesus, que quer ou permite tais coisas para o nosso bem e para o bem desta sua Obra, dizendo: Dominus est.
Nós, irmãos, membros desta santa Congregação, lembremo-nos bem que devemos ser como muitos faróis acesos pela divina Providência, continuamente alimentados, através do nosso espírito totalmente especial e próprio, por essa luz. Tenho absoluta certeza de que se nós, com a divina graça, vivermos na prática esse espírito, imenso será o bem que faremos e inumeráveis serão os desígnios que a divina Providência realizará por nosso meio; mas cabe a nós manter viva e acesa essa lâmpada de Deus, que ficará viva e acesa se nós a alimentarmos com o óleo da fé, do amor de Deus, da caridade.
Queridos irmãos, de joelhos e com as mãos unidas peço e suplico: cuidem para que reine sempre soberana na nossa Obra essa virtude, que sejam sempre banidas as críticas, as murmurações, as invejas!
Lembremo-nos que nós todos somos operários, agricultores do mesmo dono, que é Deus, postos aqui para trabalhar no seu campo assim subdividido: Nazareth, San Zeno in Monte, Costozza, Aspirantes, Madonna di Campagna, Roma. Um só terreno, que cada um deve trabalhar na parte que lhe compete, mas sempre sabendo que faz parte do mesmo campo de Deus. Alegrar-se, portanto, quando uma das partes for melhor cultivada, mais rica, e ajudar a mais pobre e vice-versa, tendo sempre presente que fazemos parte de um único campo.
Nas nossas orações, nas nossas visitas, na santa comunhão peçamos ao Senhor esta graça, este espírito, a caridade, porque isso é tudo; e como outras vezes lhes disse, nada poderá abater ou parar esta Obra. O que pode fazê-la parar ou desviar-se é a falta de caridade entre nós, é o espírito de crítica, de inveja, de murmuração, tudo isso sendo partes do nosso amor próprio, da nossa soberba.
Há dias alegres e dias tristes, de provação, de dor para todos; esses dias, vamos partilhá-los uns com os outros, pois se trata de provações da mesma família.
A fé na Providência, além disso, seja sempre o nosso ponto de apoio, a nossa rocha. Lembremos que a Providência jamais faltará, se fizermos a nossa parte.
Nos momentos de provação, mais fé, mais observância das Regras, e Deus, com toda certeza, nos dará tudo aquilo de que temos necessidade.
Lembremos todos que as oficinas são um grande meio de Providência e é dever de todos os irmãos cooperar, sob a responsabilidade do irmão encarregado, para o bom andamento das mesmas, sem ânsias nem preocupações, tendo presente que assim fazendo damos glória a Deus, mantemos elevado o bom nome da Obra e santificamos as nossas almas.
São João Calábria
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