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    De Noé a Abraão: uma aliança imutável

    Este é o terceiro artigo da série ALIANÇA: COMPROMISSO DE AMOR

    Artigos

    22.11.2021 08:01:11 | 8 minutos de leitura

    De Noé a Abraão: uma aliança imutável

    Jairo Ferreira de Melo, Postulante PSDP

    No presente artigo abordaremos dois personagens de grande importância do Antigo Testamento. Uma vez que ao se referir a Aliança com Deus, é quase impossível não mencionar Noé e Abraão. Ambos, em contextos diferentes, foram responsáveis por restabelecer e manter vivo o compromisso da humanidade com o Criador. Se com Noé, o justo, Deus quis prefigurar a salvação para com todo o gênero humano, com Abraão, pai na fé, quis destinar uma missão para todos os seus filhos. Deus nos faz ver através desses grandes homens, que a sua Aliança é imutável, é para sempre.

    Tendo passado um período após a narrativa da criação, quando o primeiro ato de aliança havia falhado com a atitude de Adão e Eva, a terra já estava povoada pela descendência dos primeiros pais, então, vemos no sexto capítulo do gênesis que Deus manifesta sua cólera por não suportar o pecado e a corrupção no comportamento humano; outra vez predomina a autossuficiência, e a violência, ferindo mais uma vez a aliança com o Criador. A essa altura, “Javé viu que a maldade do homem crescia na terra e que todo projeto do coração humano era sempre mau (Gn 6,5)”. Dessa forma, praticamente, não havia mais possiblidade para a raça humana continuar existindo, Deus estava a um passo de exterminá-la da face da terra; até que, um homem chamado Noé, encontra graça aos olhos do Criador (cf. Gn 6,8).

    Noé era um homem justo, e para poupá-lo da destruição, por meio do dilúvio, que viria sobre a terra, Deus o mandou construir uma arca, dando-lhe as instruções de como proceder. A narração do dilúvio é a narração da aliança de Deus com Noé. Dessa forma, o Criador decidiu restaurar a humanidade, dando-lhe, por assim dizer, uma segunda chance.

    Noé fez tudo aquilo que o Senhor lhe ordenou: entrou na arca com sua família e com os animais, machos e fêmeas, para que pudesse prosperar a espécie (cf. Gn 7,7-9). Então, a chuva caiu sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites. As poucas pessoas presentes na arca constituíam a promessa de uma aliança, a partir de então, eram a nova humanidade; tudo o que era dotado de vida pereceu, isto é, tudo o que estava em terra firme (cf. Gn 7,22). A simbologia do dilúvio se encontra solenemente na benção da água na liturgia do Sábado Santo: “Nas próprias águas do dilúvio, prefigurastes o nascimento da nova humanidade, de modo que a mesma água sepultasse os vícios e fizesse nascer a santidade”. Assim, segundo o Catecismo da Igreja Católica: “o dilúvio e a arca de Noé prefiguravam a salvação pelo batismo” (n. 1094), sinal de esperança para toda humanidade, que virá a ser restaurada de todo mal e da corrupção do pecado original.

    Terminado o dilúvio, Deus estabelece uma nova aliança com Noé, e promete que esta perdurará enquanto durar a terra: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra” (Gn 9,1). Põe todas as coisas à disposição do ser humano. E prossegue: “Porei meu arco na nuvem e ele se tornará um sinal da aliança entre mim e a terra” (Gn 9,13). Conforme afirma o Catecismo, Deus quer por meio desse sinal, reunir num só plano de salvação, todas os povos, segundo seu país, língua, família e nação. Esta aliança permanece em vigor durante todo tempo, até a proclamação universal do Evangelho (cf. n. 56-58).

    Dando continuidade, cronologicamente, na economia da salvação aparece uma figura estimada por todos, cuja história inspira muitos vocacionados, fazendo-os viver uma experiência concreta de confiança e entrega à Deus. Estamos falando de Abraão, que recebeu o chamado de Deus, para sair de sua terra e assumir uma nova missão: “Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei, engrandecerei teu nome” (Gn 12,2). Abraão é eleito para constituir e formar o povo de Deus. Então, assim se fez, Abrão deixou Harã – sua terra natal –, e partiu para Canaã, depois para o Egito devido a fome que assolava a terra. Ao sair da sua pátria, rompe com o seu passado, vai obedecendo a palavra de Deus, e fazendo um processo de conversão. Depois que se afastou de Ló, seu sobrinho, estabeleceu-se com sua mulher, Sarai, nas terras de Canaã, com a promessa de uma grande descendência.

    Apesar de suas posses, terras, mulher e servos, Abrão preocupava-se em ter um herdeiro, já que sua esposa era de idade avançada. Em tudo ele agradava a Deus, fazia altares e oferecia sacrifícios conforme a vontade do Senhor. Segundo o capítulo dezessete do gênesis, Deus lhe apareceu e anunciou a aliança com ele, dizendo: “serás pai de uma multidão de nações. E não mais te chamarás Abrão, mas teu nome será Abraão, pois eu te faço pai de uma multidão de nações. Eu te tornarei extremamente fecundo, de ti farei nações, e reis sairão de ti. Estabelecerei minha aliança entre mim e ti, e tua raça depois de ti, de geração em geração, uma aliança perpétua, para ser o teu Deus e o de tua raça depois de ti...” (Gn 17,4-7). A mudança de nome representa a nova missão na vida da pessoa, Abrão doravante será chamado de Abraão, deixa de ser um homem sem filhos e passa a ser pai de uma multidão, nosso pai na fé. E Javé acrescentou: “A tua mulher Sarai, não mais a chamarás de Sarai, mas seu nome é Sara. Eu a abençoarei, e dela te darei um filho; eu a abençoarei, ela se tornará nações, e dela sairão reis de povos [...]. Mas minha aliança eu a estabelecerei com Isaac, que Sara dará à luz no próximo ano, nesta estação. Quando terminou de falar, Deus retirou-se de junto de Abraão.” (Gn 17,15-21).

    A partir de então a vocação de Abraão começa a ganhar um novo sentido, Javé lhe agraciou com um filho, Isaac, todavia, passado um tempo Deus pôs Abraão à prova. Ele, que tanto oferecia holocaustos a Deus, dessa vez teria de ofertar seu próprio filho diante do lugar onde Javé lhe indicar. E assim o fez, sem murmurações, prosseguiu para o monte indicado, com seu filho e dois servos. Quando interrogado pelo seu filho onde estava a vítima do holocausto, responde: “É Deus quem proverá o cordeiro, meu filho” (Gn 22,8). Numa atitude enorme de fé, estando prestes a imolar seu filho, um anjo lhe aparece e diz: “Abraão! Não estendas a mão contra o menino! Agora sei que temes a Deus: tu não me recusaste teu filho único” (cf. Gn 22,11-13). Encontrou então um cordeiro e o ofereceu em sacrifício.


    Certamente, o que foi explanado aqui acerca de Abraão é simplesmente um pequeno esboço diante do que a história apresenta. Ele morre, conforme as escrituras, numa velhice feliz, idoso e saciado de dias, ao redor de seus parentes (cf. Gn 25,7-9). Mas cabe-nos ver diante desses fatos como Deus se manifestou para formar seu povo eleito através de Abraão, nosso pai na fé. “A esperança cristã retoma e realiza a esperança do povo eleito, que tem sua origem e seu modelo na esperança de Abraão, cumulada, em Isaac, das promessas de Deus, e purificada pela prova do sacrifício. ‘Esperando contra toda esperança, ele firmou-se na fé e, assim, tornou-se pai de muitos povos (Rm 4,18)’”. (CEC, n. 1819). 

    Por fim, estes dois grandes homens que aparecem na narração do livro do gênesis possuem algo em comum: “o justo vive pela fé” (Rm 1,17), nos fazendo perceber que a nossa vida perante Deus, deve ser guiada no caminho da justiça e da confiança em Sua Palavra. “Pela fé, viveu como estrangeiro e como peregrino na Terra Prometida. Pela fé, Sara recebeu a graça de conceber o filho da promessa. Pela fé, por fim, Abraão ofereceu seu filho único em sacrifício” (CEC, n. 145). Assim como Deus se utilizou deles para cooperarem no projeto salvífico, que possibilitou estarmos aqui; assim também, Ele quer contar com cada um de nós – que fazemos parte dessa grande linhagem dos filhos de Abraão, batizados na água que fora prefigurada no dilúvio, na aliança com Noé –, para cooperar com sua aliança, de levar a salvação a todos os filhos dispersos pelo mundo inteiro.

    Levando em consideração tudo o que fora lido até aqui, somos chamados a configurar a nossa vida à vontade de Deus; a servi-Lo sem temor, em santidade e em justiça, enquanto perdurarem nossos dias (cf. Lc 1,75). Inspirados na justiça de Noé e na fé de Abraão, somos convidados a colocar no ordinário da vida, práticas que agradem a Deus: a oração, a meditação da palavra, participação na comunidade, serviço ao próximo etc. Tudo isso ajudará na vivência da fé e aumentará nossa intimidade com Deus. 

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