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    ALIANÇA: COMPROMISSO DE AMOR

    O QUE É ALIANÇA? CONTEXTO HISTÓRICO, BÍBLICO E CRISTÃO

    Artigos

    22.09.2021 14:48:25 | 6 minutos de leitura

    ALIANÇA: COMPROMISSO DE AMOR

    Jairo Ferreira de Melo, postulante PSDP

    Os artigos da série: “Aliança: Compromisso de Amor”, tem o intuito de falar da Aliança entre Deus e a humanidade, sob a perspectiva das principais passagens bíblicas acerca da História da Salvação, e de outros elementos importantes para a nossa fé. Na base da reflexão temos: a Palavra de Deus, o Catecismo, os Documentos da Igreja, o Missal Romano, os Santos e outros livros. Contudo, antes de prosseguirmos nos temas específicos, vamos contextualizar o que se entende por Aliança numa perspectiva histórica, bíblica e cristã. 

    A palavra ‘Aliança’ tem suas raízes na língua latina: alligare, que quer dizer ligar-se a algo; no hebraico:  Bérith, significa “compromisso” ou “pacto”. Quando traduzida ao português significa um comprometimento mútuo, seja no sentido religioso, político ou jurídico; e ainda, laço que une duas pessoas em uma relação conjugal1

    Historicamente, um exemplo de aliança no sentido político, aconteceu na Primeira Guerra Mundial, com a Tríplice Aliança: Alemanha, Áustria-Hungria e o Império-Otomano; contra a Tríplice Entente: Reino-Unido, França e Rússia. Esses e outros países aliados, firmaram um pacto, baseado em acordos econômicos e militares.

    Percebe-se que com o passar do tempo, esta palavra foi ganhando significados, pelos quais conhecemos hoje em dia, mantendo seu sentido original em muitas ocasiões, mas em outras, reduzindo-o a apenas um tipo de “contrato social”, podendo ser rompido. Todavia, “Na sociedade hebraica primitiva, era muito pequeno o uso de documentos escritos. Em seu lugar, a palavra falada adquiria uma solenidade ritual que lhe conferia uma forma de realidade concreta. Assim pronunciada, a palavra não podia ser anulada ou desmentida. [...] A aliança era um acordo ritual e solene que tinha a função de contrato escrito. As partes contraentes vinculavam-se por meio de um acordo ritual que continha terríveis ameaças contra a parte que porventura o violasse”2

    O Antigo Testamento registra muitas alusões e citações à palavra ‘aliança’, no Genesis (9,9.16; 15,18; 17,2; 21,27; 26,28; 31,44), Êxodo (2,24; 6,4; 19,5; 23,32; 24,8; 31,16; 34,10.28), Levítico (2,13; 26,9), Números (18,19; 25,12), Deuteronômio (4,23; 5,2; 7,9; 9,15; 29,1), Josuel (9,6), Juízes (2,1-2), 1 Samuel (18,3; 20,16; 23,18), 2 Samuel (3,12; 5,3; 23,5), 1 Reis (8,23; 15,19; 19,10), 2 Reis (11,4; 23,3), 1 Crônicas (16,15.17), 2 Crônicas (15,12; 16,3; 23,1; 34,31), Esdras (10,3), Neemias (9,8.38), Jó (5,23; 31,1), Salmos (50,5; 74,20; 83,5; 89,3.34.39; 105,8; 106,45; 111,5), Isaias (28,15.18; 33,8; 42,6; 49,8; 54,10; 55,3; 59,21), Jeremias (11,10; 31,31; 32,40; 33,20; 50,5), Ezequiel (16,8.60; 17,14; 34,25; 37,26), Daniel (9,27; 11,28), Oseias (6,7), Amós (1,9) e Malaquias (2,4.10) nas quais encontramos Deus que faz aliança com uma pessoa ou diretamente com seu povo, estabelecendo-a desde o Gênesis ao último dos profetas, João Batista, que preparou o caminho para a Nova Aliança. No Novo Testamento, o projeto de Salvação de Deus, renova-se com o seu povo a partir do momento que Ele mesmo assume a condição humana, em Cristo, seu Filho, e entrega seu sangue, como o cálice da Nova e Eterna Aliança, para a remissão dos nossos pecados (cf. Lc 22,20).

    Dentro da perspectiva bíblica o primeiro ato de aliança de Deus aconteceu na criação, quando o seu Amor superabundou. Para manifestar Sua bondade, verdade e beleza “criou o homem à sua imagem, à sua imagem ele o criou, homem e mulher ele os criou.” (Gn 1,27). Uma das primeiras menções de ‘aliança’, nas Escrituras, refere-se a Noé, após a decaída da humanidade, pelo pecado: “estabelecerei minha aliança convosco e com os vossos descendentes.” (Gn 6,18; 9,9); com Abraão, Ele declara: “Estabelecerei minha aliança entre mim e ti, e tua raça depois de ti, de geração em geração, uma aliança perpétua, para ser o teu Deus e o de tua raça depois de ti.” (Gn 17,7); no monte Sinai, estabelece para Moisés: “se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade peculiar entre todos os povos, porque toda a terra é minha.” (Ex 19,5). É esta mesma aliança que perpetua pelos séculos, ressignificada e culminada em Cristo, para ser “tudo em todos” (1Cor 15,28). Este é o fim último da criação, conforme o Catecismo da Igreja Católica (n. 293-294).

    Ao olharmos para história universal, vemos que as alianças eram feitas com propósitos firmes e duradouros, assim como acontecia nos grandes reinos e impérios. Da mesma forma, a Aliança de Deus para com o seu povo, como no livro do Profeta Jeremias: “Eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo” (Jr 7,23). Esta declaração exige dos israelitas a aceitação das obrigações impostas por Ele, dentre as quais a de prestar culto e observar os mandamentos estabelecidos, em troca de ajuda, proteção e libertação prometida por Deus. Uma vez que esta Aliança era rompida, quando os filhos de Deus se deixavam levar por falsos deuses, por exemplo, Deus os castigava, porque assim está escrito: “Entoa sobre os montes secos uma lamentação. Porque Javé desprezou e repudiou a geração que o provoca ao furor” (Jr 7,29). Aos que guardam, porém, o compromisso de Amor, jamais serão desamparados por Ele, como diz o salmista: “O Senhor se lembra eternamente de sua aliança” (Sl 104,8).

    Uma Aliança, em seu significado abstrato, pode ser representada por meio de símbolos, atribuindo um sentido à algum objeto. Por exemplo: o anel, seja de compromisso, noivado ou casamento, usado como sinal em diversas culturas e credos; também, como no caso do filho pródigo, que ao retornar para a casa do seu pai, recebe um anel como sinal de aceitação na casa do pai, recordando a aliança de Deus com seus filhos (cf. Lc 15,22); a Arca feita por Noé, reestabelecendo a aliança com Deus (cf. Gn 6,14); bem como, o Arco-íris: “porei meu arco na nuvem e ele se tornará um sinal de aliança entre mim e a terra” (Gn 9,13); a Arca da Aliança, para guardar as tábuas de pedra com os mandamentos, revelada a Moisés (cf. Ex 19). Dentre tantos sinas e símbolos atribuídos.

    Por fim, falar de Aliança numa perspectiva de relação íntima com Deus, visando o fim último da criação, voltarmos para Ele, é falar de um compromisso de amor. É preciso ter presente o sentimento de gratidão à Deus Pai, que nos chama a fazer parte de seu amor, por meio deste “casamento”, correspondendo com integridade aquilo que Ele espera de nós, pelo seu projeto de salvação e sua Bondade, Beleza e Verdade revelada em Cristo. Somos o povo escolhido por Deus – no sentido universal –, para adorá-lo e fazer a Sua vontade, até o dia da nossa salvação, onde seremos tudo em todos (cf. 1 Cor 15,2).

    1 Cf https://www.dicionarioetimologico.com.br/alianca/ 21 abril de 2021
    2 MCKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. São Paulo: Paulus, 1983. p. 24.

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