Rezar com os santos e os pecadores
Cadernos sobre a oração - 4
Jubileu 2025
06.06.2024 07:00:00 | 7 minutos de leitura

Neste caderno acompanharemos o trabalho de quatro santos da Tradição da Igreja, destacando sua intimidade divina e humildade. Os santos, reconhecidos como Doutores da Igreja, buscavam ajuda de Deus com humildade e fé, orando fervorosamente. Suas vidas desafiadoras mostram um exemplo de entrega total a Deus, permitindo que a graça transforme suas fraquezas em força. A dedicação deles revela o esplendor de Cristo, através de suas vidas, inspirando-nos a buscar uma maior proximidade com Deus.
Padre Rafael Pedro Susrina, psdp
Santo Agostinho de Hipona (354-430)
“Tem piedade de mim e cura-me, pois tu vês que me tornei um problema para mim mesmo”
As “Confissões” de Agostinho é uma obra que revela a natureza da fraqueza e do pecado que o afligiam na juventude. A obra consiste em 13 livros que são uma confissão de falhas e louvor a Deus. Não é uma autobiografia direta, mas sim uma meditação dirigida a Deus, criando uma forma dinâmica de biografia pessoal repleta de orações.
Na vida de Agostinho os Salmos tiveram grande impacto, o tornando um leitor apaixonado a ponto de escrever um extenso comentário sobre eles: as “Exposições”. Ele viu sua própria vida refletida nos Salmos e encorajou os outros a fazerem o mesmo, pois acreditava que os Salmos não apenas elevavam a mente, mas também curavam as feridas mais profundas do coração. Via a voz dos Salmos como não apenas a do salmista, mas em certas ocasiões a de Cristo.
Apesar da serenidade e felicidade da sua conversão, Agostinho ainda enfrenta desafios após essa experiência, o que o leva a refletir sobre a constante necessidade de conversão. Ele enfatiza que tanto santos quanto pecadores compartilham da humanidade e da necessidade de buscar a graça divina. A esperança é um tema recorrente nos escritos de Agostinho, que ora por força e proteção divinas para continuar no caminho da fé. Sua mensagem continua atual e relevante nos dias de hoje, inspirando a todos, santos e pecadores, a perseverar na fé e na busca constante pela conversão e pela graça divina.
Santa Teresa d'Ávila (1515-1582)
“Recupera, meu Deus, o tempo perdido, concedendo-me graça no presente”
Santa Teresa impressionou seus contemporâneos com sua energia, talento e habilidade em falar e escrever sobre oração. Em uma revelação privada, Teresa recebeu uma resposta profunda de Deus, indicando que não deveria ser limitada pelo ensinamento que negava voz às mulheres. Anos após sua morte, Teresa foi nomeada Doutora da Igreja pelo Papa Paulo VI, reconhecendo sua genialidade e maestria espiritual: “Ela teve o privilégio e o mérito de conhecer esses segredos por meio da experiência”. Seus escritos revelam tanto sua espiritualidade profunda quanto sua humanidade falível, mostrando uma Teresa complexa e inspiradora para os leitores.
A jovem Teresa encontrou muitas informações sobre oração, mas levou anos para descobrir o melhor caminho para ela. Em seu livro “Caminho da Perfeição”, menciona que muitos bons livros foram escritos por pessoas metódicas e experientes, mas sua mente não era assim. Ela lutou para acalmar sua mente dispersa, que estava sempre inquieta. O método de oração que Teresa desenvolveu envolvia: recitar o Pai-Nosso e praticar a presença de Deus; representando Cristo dentro de si mesma. Ela aconselha a lembrar que Deus está presente durante a oração e promete que, mesmo sendo difícil no início, trará benefícios e consolação. Teresa encoraja a experiência desse método, mesmo que envolva luta, pois a prática levará à consolação de encontrar Deus dentro de si mesmo. E a perseverança é essencial para adquirir esse hábito.
A jornada de Teresa em direção a Deus é repleta de maravilhas quase inimagináveis, voos rápidos de êxtase, momentos de calma, visões de beleza sublime, dores e alegrias extáticas. Mesmo com tudo isso, ela chegou a enfrentar dificuldades na oração, temendo a hora da meditação e a dor de seus pecados. No entanto, aprendeu com a paciência de Deus e compreendeu que a oração é essencial, mesmo diante dos pecados. Santa Teresa ressalta a importância de buscar virtudes e praticá-las para crescer na oração e na contemplação, mesmo em meio às dificuldades.
Santo Tomás de Aquino (1225-1274)
“A ti, ó Deus, Fonte de Misericórdia, venho como pecador”
Santo Tomás de Aquino, conhecido por suas explorações profundas nos campos da filosofia e teologia, tinha como objetivo atrair outros para Cristo através de suas obras e orações. Em suas orações, expressava a humildade de um pecador que reconhecia a sua impureza e necessidade de perdão. Mesmo sendo reconhecido como um grande santo, Aquino não se considerava totalmente perfeito, pois afirmava que todos têm algum pecado.
Suas orações “Piae preces”, refletem sua profunda fé e dependência de Deus. A oração “Adoro te devote”, por exemplo, mostra a devoção de Aquino a Cristo na Eucaristia e sua humildade diante de Deus. Nas orações de súplica como a “Oração pela remissão dos pecados” e a “Oração para uma Ordem Sábia” demonstram sua necessidade de graça. O pedido por um “coração vigilante, nobre, invicto, livre e íntegro” revela a integridade de espírito do Aquinate.
A confiança é destacada como um elemento distintivo das orações de Santo Tomás, que reconhece a certeza que os seres humanos devem ter em Deus. Mesmo em experiências místicas, Aquino era discreto e seu misticismo se manifestava no estudo orante da Palavra de Deus e na sabedoria de suas obras. A intimidade experimentada na oração levava a uma maior confiança em Deus, preparando o caminho para uma relação mais profunda com Ele.
Santa Teresa de Lisieux (1873-1897)
“Sou pequena demais para subir a escadaria áspera da perfeição”
Santa Teresinha buscou a verdade, rejeitando visões e pretensões, vivendo uma vida oculta. Desejava ser santa desde jovem, buscando a via da infância espiritual em Deus, confiando na bondade divina. Sua “pequena via” era de alegria e liberdade, enfrentando a vida com humildade e confiança. Seu ensinamento de entrega a Deus é considerado excepcional. Mesmo com seus pecados, confiava na misericórdia divina. Sua mensagem de humildade e confiança inspira as pessoas a se aproximar de Deus corajosamente, independentemente de suas fraquezas.
Teresinha praticava uma oração simples e direta, preferindo falar com Deus de forma simples, deixando as práticas mais complexas para os mais capacitados. Ela se inspirava em figuras do Evangelho, como o Publicano e Maria Madalena, que demonstravam humildade e confiança audaciosa em suas orações. Teresinha recorria à leitura espiritual e às Escrituras para manter o foco em Deus durante a oração. Após passar por um período de escuridão espiritual, sua forma de orar pelos pecadores mudou, tornando-se uma expressão de compaixão e solidariedade para todos que sofriam. Sua experiência a levou a uma profunda compreensão do amor de Deus e da importância da oração pelos outros.
Os santos, embora pareçam distantes e intimidadores, não são julgadores das fraquezas humanas. Eles têm compaixão pelas lutas e erros dos pecadores, lembrando que enfrentaram as mesmas batalhas. Quatro santos célebres - Agostinho, Teresa d'Ávila, Tomás de Aquino e Teresa de Lisieux - apresentam diversidade em seus caminhos de oração, mas todos trazem frescor e surpresa ao Evangelho. Como está o meu caminho de oração?
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