Viver os mesmos sentimentos de Cristo Jesus
Dando sequência aos temas refletidos nas últimas Edições da Revista A Ponte, no espaço vocacional (primeiro a partilha das experiências do ano de Noviciado, e o segundo o discernimento), Padre Paulo Salvi, Psdp, nos convida a entrar, na medida do possível, num caminho que nos conduza à intimidade com Jesus.
29.09.2021 09:44:20 | 4 minutos de leitura
Estamos sempre falando a pessoas que estão num caminho de busca, de escuta, de disponibilidade frente ao que Deus está pedindo. Por isso mesmo é preciso mais e mais, sair de si mesmos, olhar para “fora” de si para colher o que Ele, Jesus, quer de cada um/a. Parece-me que a proposta de “viver os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” segundo Filipenses 2,5 é o auge de um processo que vai ajudar a pessoa a discernir, e a poder fazer a escolha. Penso nisso também olhando para o espírito missionário que conduziu os nossos primeiros Irmãos e sacerdotes que deixaram a Itália, sessenta anos atrás, para virem à nossa terra. Não certamente atrás de aventuras, mas com o espírito aberto, com “algo” para partilhar conosco, com Alguém para partilhar conosco, com um desejo grande de ajudar-nos no caminho da descoberta e vivência da vontade de Deus.
Falar dos sentimentos de Cristo Jesus é igual a fazer um percurso no seu interior, deveria quase, permitam-me o exemplo, ser o sangue a circular em suas veias, em seu coração para captarmos o que Ele vivia, o que movia sua vida a dar os passos que deu, etc. Os sentimentos movem a vida da pessoa, de todas as pessoas. O texto de Filipenses mostra, nos versículos sucessivos ao 5, quais são os sentimentos de Cristo Jesus: o amor, a generosidade, a humildade, a obediência a Deus, o dom de si... Essa é a direção que nos é apontada.
Entende-se aqui que se faz necessário um caminho formativo. E eis o que nos diz o documento Vita Consecrata: uma vez que o fim da Vida consagrada consiste na configuração com o Senhor Jesus e com a sua oblação total, para isso sobretudo é que deve apontar a formação. Trata-se de um itinerário de progressiva assimilação dos sentimentos de Cristo para com o Pai. Se esta é a finalidade da vida consagrada, o método que prepara para ela deverá assumir e manifestar a característica da totalidade (cf. n. 65). Parece-me que o assento fica no itinerário de progressiva assimilação dos sentimentos de Cristo. Como fazer isso?
Pe. Amedeo Cencini em seu livro “Os Sentimentos do Filho” (pgs. 248-256) nos sugere algumas etapas progressivas a serem seguidas para alcançar profundidade:
1 – Os comportamentos: são importantes, mas não podemos ficar apenas neles. O fariseu também era “politicamente correto” nos comportamentos, mas Jesus o reprova.
2 – Atitudes, hábitos: para além dos comportamentos é importante perceber como está se formando a consciência da pessoa, através de seus hábitos e estilo de vida. A consciência de um fiel que crê na cruz de Jesus é chamada a formar-se diante do mistério pascal, segundo a verdade da fé.
3 – Os sentimentos: tentar penetrar nos sentimentos interiores da pessoa. No episódio evangélico de Jesus na casa de Marta e Maria (Lc 10,38-42) nos mostra que Marta tem um comportamento e depois manifesta os seus sentimentos que parecem não caminhar na mesma direção. O comportamento nem sempre demonstra os sentimentos.
4 – As motivações: os sentimentos são importantes, pois nos fazem ver as motivações. Necessidade de uma conversão não só expressa nos comportamentos, mas também nas motivações. Verificar-se a modo de exame de consciência através de algumas perguntas: o que eu fiz? Como eu fiz? Por que eu fiz? Para quem eu fiz? Conhecer-nos interiormente, o que está por trás de nossas ações.
5 – A opção de fundo: deveria ser o ponto de chegada. Chegar a identificar a opção de fundo, aquela que está na raiz e no centro da vida, em que se encontram o tesouro e o coração da pessoa.
Enfim, podemos concluir que toda a ação educativa tende a criar na pessoa aquela mesma disponibilidade ou aquele mesmo sentimento de amor imenso que levou o Filho a se tornar homem, a se converter num servo, humilde e obediente, livre para dar a vida por amor. Nisso está o “tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus” (Fil 2,5). Esse é o horizonte que deve nos atrair, tudo o mais são etapas e experiências vividas ao longo do caminho.
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