Pastoral: Semana de Oração pela unidade dos cristãos
Série: Que todos sejam um: uma conversa sobre o Ecumenismo – Pastoral parte 2
Artigos
16.04.2024 07:00:00 | 6 minutos de leitura

Padre Rafael Pedro Susrina, psdp
As Igrejas cristãs que participam do movimento ecumênico têm consciência de que não alcançarão a unidade almejada apenas com seus esforços. A unidade é fruto do Espírito que provoca a “conversão do coração e a santidade de vida” (DECRETO..., 1964, n. 8). Ao mesmo tempo em que se busca a unidade na ação, também deve ser pedida na oração, tal como Jesus rezou ao Pai, “para que todos sejam um” (Jo 15,17). Os cristãos, rezando juntos, compreendem que possuem uma identidade comum, mais forte e fundamental, acima das circunstâncias históricas e das diferenças objetivas de convicções pessoais, e que esta identidade lhes dará força para que ajam juntos e ultrapassem tudo o que os separa uns dos outros.
O Ecumenismo espiritual é a alma do movimento ecumênico. A oração pela unidade adquiriu maior extensão nas Igrejas cristãs nas últimas décadas, mas na verdade
sempre se rezou pela unidade em nossas liturgias: a santa Igreja Ortodoxa tradicionalmente a realça, e isto não aconteceu após as separações, mas é parte integrante da liturgia. Por sua vez, a Igreja Católica Apostólica Romana volve-se para a unidade, especialmente durante a celebração eucarística. Contudo, podemos dizer, nunca as Igrejas tiveram tanto empenho no cuidado da oração pela unidade, como se observa nestes derradeiros anos (MICHALON, 1969, p. 96).
A maior expressão dessa realidade é a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, preparada mundialmente pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos juntamente com o Conselho Mundial de Igrejas. Dentro da perspectiva histórica, o Papa Leão XIII em 1895 através do Breve Provida Matris sobre a devoção ao Espírito Santo, mobilizou os fiéis católicos em prol da unidade, ordenando-os a celebrarem uma novena, da Ascensão a Pentecostes, para apressar a obra da reconciliação de todos os cristãos. Posteriormente na Encíclica Divinum illud Munus (1897) decretou a novena como caráter perpétuo. Entretanto, essa Semana era exclusiva dos católicos e tinha uma conotação geral diferente da atual.
No ano de 1908, os jovens anglicanos Spencer Jones e Lewis Thomas Wattson prepararam, pela primeira vez, uma oitava de orações pela unidade dos cristãos. Sendo celebrada do dia 18 de janeiro, festa da Cátedra de São Pedro, ao dia 25 de janeiro, festa da Conversão de São Paulo. Quando Wattson e sua congregação ingressaram no Catolicismo, essa iniciativa foi assumida pela Igreja Católica. Mas foi através dos esforços do Pe. Marie-Alain Couturier que a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos ultrapassou as fronteiras do catolicismo. Pois, a partir de 1935, a oitava promovida por ele
baseava-se na fórmula: ‘que chegue à unidade visível do Reino de Deus, tal como Cristo a quer, pelos meios que ele quiser!’ Não se tratava, pois, de pedir uma simples volta ou retorno ao catolicismo, mas de colocar-se, por inteiro, a disposição da vontade de Cristo, na procura da unidade (CNBB, 1984, p. 272).
Essa realidade não provoca uma renúncia as próprias convicções eclesiais, mas oportuniza a oração em comum e revela a obediência de todos ao único Senhor.
Em 1958, a Unidade Cristã (Lyon, França) e a Comissão Fé e Ordem do Conselho Mundial de Igrejas iniciam a preparação em conjunto dos materiais para a Semana de Oração. No ano de 1964 a Igreja Católica publica o Decreto Unitatis Redintegratio sobre Ecumenismo. Em 1966, a Comissão Fé e Ordem do Conselho Mundial de Igrejas e o Secretariado para a Promoção da Unidade dos Cristãos, (atual Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos), iniciam juntos a preparação do material da Semana de Oração, sendo usado oficialmente pela primeira vez em 1968.
No ano de 2004 formaliza-se um acordo no qual os materiais da Semana de Oração serão publicados e produzidos no mesmo formato pela Comissão Fé e Ordem e pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Desde 1975, o subsídio é realizado tendo como base um texto preparado por um grupo ecumênico local (país). No ano de 2024, a Semana de Oração teve como tema “Amarás o Senhor teu Deus… e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10,27), organizados por uma equipe ecumênica de Burkina Faso, coordenada pela Comunidade Chemin Neuf (CCN) naquele país.
Juntamente com o tema proposto para a Semana de Oração, há a sugestão de um momento de oração conjunta, com breves reflexões bíblicas, para cada dia da semana. Interessante salientar a responsabilidade que o bispo possui de incentivar e promover em sua diocese a realização da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de forma concreta e realista. Através de encontros de oração ecumênica com outros líderes cristãos, encorajando as paróquias e os fiéis das mesmas a trabalharem com outras comunidades cristãs presentes no mesmo território ou região. Organizando assim, em conjunto, momentos especiais de oração, sobretudo durante esta semana. As comunidades paroquias são espaços frutíferos para a celebração da Semana de Oração e do incentivo a oração pela unidade, na busca da plena comunhão.
No Brasil, o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC) desde 1983 oferece um subsídio adaptado da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. E o período em que se realiza a Semana de Oração no hemisfério Sul é a que antecede a festa de Pentecostes, iniciando dia posterior a Ascensão.
No próximo artigo, a última parte, Pastoral do Ecumenismo:3. Declarações e Convergências após o Concílio Ecumênico Vaticano II
Acompanhe a série de artigos:
Referências bibliográficasCONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Guia Ecumênico: informações, normas e diretrizes sobre o ecumenismo. 2. ed. São Paulo: Edições Paulinas, 1984. 297 p.MICHALON, Pierre. A unidade dos cristãos. São Paulo: Edições Paulinas, 1969. 156 p.
sempre se rezou pela unidade em nossas liturgias: a santa Igreja Ortodoxa tradicionalmente a realça, e isto não aconteceu após as separações, mas é parte integrante da liturgia. Por sua vez, a Igreja Católica Apostólica Romana volve-se para a unidade, especialmente durante a celebração eucarística. Contudo, podemos dizer, nunca as Igrejas tiveram tanto empenho no cuidado da oração pela unidade, como se observa nestes derradeiros anos (MICHALON, 1969, p. 96).
baseava-se na fórmula: ‘que chegue à unidade visível do Reino de Deus, tal como Cristo a quer, pelos meios que ele quiser!’ Não se tratava, pois, de pedir uma simples volta ou retorno ao catolicismo, mas de colocar-se, por inteiro, a disposição da vontade de Cristo, na procura da unidade (CNBB, 1984, p. 272).
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