São João Calábria: Vida que Inspira Vidas - Reflexões do Padre Waldemar José Longo
"Percebo que ser religioso e sacerdote não é, antes de tudo, produzir, mas acolher um dom que vem de Deus," relatou Pe. Waldemar.
Testemunhos
18.04.2024 07:15:00 | 8 minutos de leitura

Hoje, em meio às comemorações dos 25 anos da canonização de São João Calábria, a Família Calabriana se reúne para celebrar e refletir sobre o legado deste santo inspirador. Neste contexto tão especial, o Padre Waldemar José Longo, que serviu como Superior Geral por diversos anos, compartilha conosco sua jornada e como o Carisma Calabriano moldou sua vida como missionário Pobre Servo.
Padre Waldemar nos conta sobre sua primeira aproximação com o Carisma Calabriano e como isso gradualmente influenciou sua vocação e missão como religioso e Casante. Atualmente, ele está dedicado à missão no primeiro Santuário dedicado a São João Calábria, localizado em Verona, na Itália. Apesar de enfrentar desafios de saúde, ele continua a servir a Deus com alegria, especialmente no acolhimento de peregrinos e no atendimento das confissões.
Seu testemunho é um reflexo vivo do espírito de serviço e dedicação que caracterizam a Família Calabriana. Padre Waldemar oferece sua vida pela santificação da Família Calabriana e de toda a Igreja, demonstrando que a inspiração de São João Calábria continua a se manifestar através da vida e testemunho daqueles que seguem seus passos.
Neste dia tão significativo, celebremos não apenas a canonização de São João Calábria, mas também a vida e o exemplo dos que, como Padre Waldemar, se deixam guiar pelo carisma Calabriano, tornando-se luz e esperança para o mundo.
Acompanhemos seu relato:___
Fui solicitado a compartilhar minha experiência da Canonização do nosso santo Fundador e como a vida dele influenciou a minha.
O dia 18 de abril de 1999 era esplêndido, primaveril. O sol iluminava as colinas ao redor de Roma, proporcionando um cenário luminoso para uma grande celebração. De fato, a Praça São Pedro estava completamente lotada, com fiéis ligados ao Pe. Marcelino Champagnat, Ir. Agostina e ao Pe. João Calábria participando com entusiasmo e fervor. Os calabrianos, vindos principalmente da Itália, estavam em grande número, assim como representantes das comunidades calabrianas de diversos países.
Recordo-me de uma reunião de preparação em que o Bispo de Verona, Mons. Flávio Carraro, recém-chegado à Diocese, expressou certa preocupação sobre como mobilizar Verona para participar da canonização. O Bispo auxiliar, Mons. Veggio, veronense e grande conhecedor do Padre Calábria, tranquilizou-o: “não se preocupe, para Dom Calábria Verona vai se mobilizar”. De fato, os veroneses estavam em grande número na Praça São Pedro. Sua popularidade era tal que ainda hoje há anciãos que o conheceram, e nas famílias a figura do nosso santo Fundador está muito presente.
A canonização do Padre Calábria foi o reconhecimento oficial por parte da Igreja de sua santidade. Na verdade, ainda em vida, Verona já o havia canonizado. Quando ele faleceu, dizia-se: “morreu um santo”. A Igreja finalmente aprovou o caminho de santidade e o carisma percorridos por ele, deixando-os como herança válida para a Igreja universal.
Padre Calábria sempre buscou a santidade. O ano de 1911 foi especial, pois ele se transferiu definitivamente de San Benedetto al Monte para San Zeno in Monte. Era o momento de iniciar uma nova fase de sua vida, repleta de projetos, sendo a santificação pessoal o principal deles. Nesse ano, ele começou a escrever seu diário e estabeleceu os onze propósitos para alcançar a santificação pessoal e da Obra. Muitas vezes repetia: “ou santo ou morto”. Por santificação, ele não queria dizer ser colocado nos altares, mas conformar cada vez mais sua vida a Cristo, tornando-se semelhante a Ele.
Com a canonização, os pilares do Carisma Calabriano — fé, confiança, abandono em Deus, espírito de família, amor e serviço aos pobres — tornaram-se uma proposta e patrimônio de toda a Igreja.
Antes de propor esse caminho espiritual, Padre Calábria o praticou em sua própria vida. Ele foi um santo original. Sua situação de extrema pobreza o levou a abandonar os estudos aos 13 anos, após a morte do pai. A partir daí, estudou por conta própria e prestou exames no final do ano em uma escola pública. Mesmo durante a teologia, ele continuou morando com a mãe; frequentava a teologia pela manhã, trabalhava à tarde e ainda encontrava tempo para fazer pastorais à noite. Foi nesse período que ele fundou sua primeira associação para visitar doentes e idosos que viviam sozinhos e, às vezes, eram abandonados pela família. Ele se tornou sacerdote sem nunca ter sido interno em um seminário.
Padre Calábria era amado pelos veroneses por sua pobreza material — de fato, ele fez grandes coisas confiando unicamente na divina Providência —, mas também por sua grande fé e humanidade. Ele vivia com radicalidade o espírito do Evangelho e o "modo de vida dos apóstolos".
Como a vida do nosso Fundador inspirou a minha? Entrei no seminário aos 16 anos. Meu irmão mais velho já estava com os padres Vicentinos e me convidava a seguir o mesmo caminho, mas eu sempre resisti. Aos 16 anos, os Capuchinhos pregaram uma missão popular em minha comunidade, e foi nessa ocasião que me senti chamado pela primeira vez. Quando comuniquei isso ao meu pároco, italiano e conhecedor do Padre Calábria, ele sugeriu que, em vez de entrar para os Vicentinos, eu deveria me juntar aos Calabrianos. O Pe. Caetano visitou minha família, e em poucos meses eu já estava no Seminário de Farroupilha, onde experimentei o espírito de família e me senti acolhido e à vontade. A partir daí, segui o caminho normal de formação. Fiz o noviciado em 1975 e, como neo-professo, trabalhei no Seminário de Farroupilha. Em 1980, junto com o Pe. Manuel Oliveira e Dom Jaime Kohl, fui para a Itália estudar teologia. O fato de ser descendente de italianos facilitou meu aprendizado da língua e minha adaptação à cultura italiana. Foram anos de grande riqueza cultural, espiritual e de conhecimento do espírito Calabriano. Conviver com irmãos e sacerdotes que conheceram e conviveram com o Padre Calábria foi uma experiência maravilhosa e enriquecedora.
Depois de concluir os estudos, retornei ao Brasil e trabalhei no nordeste do país, em Feira de Santana e na periferia de São Luís do Maranhão, por quatro anos. Foram anos maravilhosos. Na Cidade Operária, cercada por grandes problemas sociais, vivenciamos um grande conflito pela disputa das 15 mil casas recém-construídas. A Paróquia São João Calábria começou do zero. Não havia nenhuma estrutura paroquial, e a comunidade se reunia na Escola São José Operário, pertencente à Congregação. Apesar das muitas dificuldades, a Paróquia cresceu e estabeleceu as estruturas necessárias. Ali pude testemunhar o protagonismo e a força evangelizadora dos pobres.
Em 1990, fui transferido para Porto Alegre como Delegado, até 1996, quando fui eleito Casante. Depois desse período, passei seis anos em missão na Índia e, em 2014, adoeci e tive que retornar à Itália, onde ainda estou. Minha missão agora é acolher e ouvir confissões dos peregrinos que visitam o recém-criado Santuário São João Calábria, por decreto do Bispo de Verona.
Sempre me impressionou a centralidade de Jesus Cristo na vida da São João Calábria, "il mio caro e buon Gesù", como ele costumava dizer, internalizado através da leitura e meditação da Palavra de Deus. O espírito de família que se respirava em nossas casas foi o aspecto decisivo na escolha por esta família religiosa, e o amor e serviço aos pobres me atraíram e moldaram meu futuro pastoral, com a opção preferencial pelos mais necessitados.
O carisma, a espiritualidade e o estilo de vida Calabriano foram uma grande luz em minha vida.
Hoje, ‘meio aposentado’, mais por motivos de saúde do que pela idade, estou descobrindo e vivenciando novos aspectos da vida. Os problemas de saúde que enfrento, longe de serem uma desgraça, os considero uma grande graça. Nessa situação, mais do que ter, procuro ser, e então, as pequenas coisas da vida assumem grande importância. A acolhida, o respeito das pessoas, o diálogo, os pequenos gestos de humanidade e fé são coisas que dificilmente percebemos quando estamos bem. Percebo, sobretudo, que ser religioso e sacerdote não é, antes de tudo, produzir, mas acolher um dom que vem de Deus. Sou o que sou primeiramente pela minha relação com Ele e com meus irmãos. Assim, continuo sendo religioso e sacerdote em uma dimensão ainda mais profunda, através da oração, da pertença à Igreja e à Obra, oferecendo minha vida pelo bem de toda a humanidade.
Aproveito a oportunidade para saudar todos os membros da Família Calabriana e desejar a todos uma boa celebração dos 25 anos da canonização do nosso santo Fundador.
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