A leveza de abandonar-se
Nosso Senhor diz: “Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, pois meu jugo é suave e meu fardo é leve” (Mt 11,28-30).
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08.11.2021 09:17:25 | 5 minutos de leitura
Deus existe! Começamos por este ponto, pois, mesmo que não pareça, corremos o grande risco de viver esquecidos de Deus. Não só existe, mas nos ama, e não se distrai de nós. Como Pai jamais visto, sabe até mesmo quantos são os fios de nossos cabelos (Lc 12,7). Contudo, muitas das vezes vivemos como se Deus não fosse nosso Pai Amoroso.
O problema está no orgulho, sim, este mal está enraizado em muitas das nossas ações, pensamentos e palavras, sendo que nem nos damos conta. Quando uma pessoa recebe uma “indireta” de alguém, por exemplo, e fica pensando nisso, remoendo por dentro o que aquela outra pessoa fez, crescendo em raiva e mágoa, o combustível para tal coisa, é o orgulho. O orgulhoso não consegue ofender o humilde, pelo simples fato do humilde saber a verdade sobre si mesmo. O orgulho nos deixa estressados, explosivos, com dificuldade para perdoar, e além do mais, nos incapacita de amar. Pois o amor exige um certo sacrifício, um tipo de “esquecimento de si”. O orgulhoso, se acha dono completo de si mesmo e de sua vida, odeia que outros opinem, pois ele sabe cuidar da própria vida. Autossuficiente, crê não precisar dos outros, e deseja mais do que tudo, manter-se no controle. Desta forma, os problemas da vida só crescem, pois, qualquer coisa que aconteça fora do comum, é motivo para uma experiência estressante da vida; e o que mais existe na vida, são contingências, encontros e desencontros; e nada, absolutamente nada, é realmente, nos mínimos detalhes, como se imagina ser.
Pois bem, a solução é humildemente abandonar-se. Com isso surge a pergunta: quem vai cuidar da nossa vida? Deus, e de fato, não poderia ser ninguém melhor. Jesus diz: “vinde a mim vós que estais cansados”; é como se dissesse: “deixa que Eu te ajude, não importa o problema, Eu o ajudarei”. Ele continua: “encontrareis descanso para vossas almas”; não é que você deixará de trabalhar, ou de ter desafios na vida, que nunca mais se achará com seu corpo cansado, porém, não são essas coisas o problema verdadeiro, mas aquilo que se acontece na alma do ser humano: as angustias, as tristezas, a ansiedade, o desânimo. Tudo isso não é fruto direto da rotina de trabalho nem das dificuldades da vida. A alma só encontra repouso em Deus; pois só Deus consegue satisfazer os desejos da alma. Vivemos correndo de um desejo para outro, uma hora queremos uma coisa, outra hora outra; não seria exagero dizer que desejamos o infinito, no sentido de que somos insaciáveis. Só existe Um que se encaixa perfeitamente nesse desejo da alma, Deus. Desta forma, uma vida distante de Deus resulta em todo aquele peso e cansaço que a alma experimenta.
Contudo, Deus resiste aos soberbos (Tg 4,6). Por isso Nosso Senhor diz: “aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração”. Diante de Deus, na sua presença, não há espaço para o orgulho, pois a verdade brilha de tal maneira para nós, que nos faz reconhecer imediatamente, o quanto Ele é incomensurável, e o quanto nós somos pequenos; o quanto que Ele nos ama gratuitamente, e o tanto que nos falta de generosidade e nos sobra de ingratidão. O que Jesus está nos ensinando é, que ser criança é bem mais fácil que ser adulto. Somos como crianças, que brincam e sonham com o dia que chegarão à vida adulta, podendo mandar e fazer o que quiser com a própria vida. Porém, ao afastarmo-nos de nosso Pai e Deus, percebemos o quão duro é estar longe de seus cuidados e que a vida só se torna mais complicada. Não somos donos da nossa vida, Ele é. Não como quem é abusivo em sua autoridade, não! Ele nos criou, mesmo sem precisar, o fez por amor gratuito; deu-nos a liberdade, para assim podermos viver autenticamente, tomando as nossas escolhas. Até mesmo quando escolhemos errado, Ele está ali para nos perdoar e nos conduzir ao caminho certo; fez-nos livres para amar. O problema é quando, por conta do orgulho, nos fechamos para o amor, pois tendo os olhos tão focados sobre nós mesmos, não conseguimos contemplar aquilo que vai além do simples “eu”; acabamos assim, não amando, nem a Deus nem aqueles que estão próximos a nós.
E qual é o jugo suave e o fardo leve que Jesus comenta? É o mesmo das crianças que vivem sob o teto de seus pais, a obediência. Não seriamos filhos de Deus se não soubéssemos obedecer a Ele. Porém, obedecer a Deus é a melhor coisa que a nossa liberdade pode fazer, por isso é suave e leve; pois não há mundo possível em que o nosso Pai que está no céu possa cometer um erro naquilo que faz. Por isso São Paulo diz: “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28). O segredo é viver tudo como filho e filha de Deus, entregando a Ele, com amor, por meio de palavras, sentimentos, pensamentos ou ações, tudo aquilo que nos acontece; e quando surgir algo pesado demais, peçamos ajuda, como qualquer criança faz com seus pais. Pois, humildemente devemos reconhecer, que sem Ele, nada podemos fazer (cf. Jo 15,5).
Irmão Deivid Ferreira da Silva, Psdp.
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