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    CF 2023, Fraternidade e fome, um paradoxo a ser desconstruído!

    Fraternidade e fome, o tema, iluminado pelo lema, “dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16)

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    01.03.2023 08:00:00 | 7 minutos de leitura

    CF 2023, Fraternidade e fome, um paradoxo a ser desconstruído!

    Ir. Silvio da Silva, psdp

    Paradoxo do começo ao fim. O que fraternidade tem a ver com fome? Pois é, olhando assim de longe, nada, mas ao nos aproximarmos destas duas  realidades, logo percebemos, que por incrível que pareça, estes dois conceitos estão ligados pelo contraditório. Ou seja, uma será sempre  a ausência da outra. Onde há fraternidade não existe a fome, por outro lado, a fome é a completa ausência da fraternidade. 

    A Campanha da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para 2023 e pela terceira vez, nos seus quase 60 anos, vem nos recordar que este paradoxo está numa reedição, diríamos bastante vergonhosa em nosso meio. Um Povo como o Brasileiro, que se orgulha de ser um País quase continente, invejado por todos os outros países, pelas suas riquezas, um dos maiores produtores de grãos e carne do mundo, figura hoje no famigerado mapa mundial da fome com mais de 33.000.000 de pessoas, 15% dos brasileiros vivendo em situação de insegurança alimentar grave, ou seja, passando fome.

    “A Campanha da Fraternidade é um dos modos  de como no Brasil se vive a quaresma. Entre a Campanha da Fraternidade e a quaresma há uma relação irrenunciável. A Quaresma dá o tom à Campanha da Fraternidade e esta, por sua vez, ajuda a viver a Quaresmas. A conexão entre as duas está no enfrentamento e na superação do pecado” (Dom Joel Portela, Secretário da CNBB). Por mais que muitos insistam, a Campanha da Fraternidade não é uma questão de religião, mas uma questão que diz respeito ao humano, por isso, mesmo é pensada pela Igreja Católica, e em algumas edições, pelas Igrejas Cristãs, todas as Campanhas da Fraternidade falam de uma realidade humana que está sendo descurada e vem sempre iluminada pelo Evangelho, que também não tem uma patente de propriedade privada, mas foi escrito para todas as mulheres e os homens de boa vontade.

    Fraternidade e fome, o tema, iluminado pelo lema, “dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16), vem ecoar aos ouvidos de todos nós como um grito, que nos alerta para uma grande possibilidade de nos reaproximarmos de Deus Pai. Fraternidade tem sempre a ver com pai. Fraternidade é o mesmo que irmandade, e irmãos são pessoas geradas de um mesmo pai, ou mesma mãe, seja biológica ou no coração. O Brasil enche a boca para se dizer um dos países mais cristãos do planeta, no entanto milhões de famintos perambulam pelas suas avenidas. Voltando para nós, católicos, defensores ferrenhos da vida e da moralidade, nem sempre nos sentimos envergonhados com a morte, a indignidade e o jeito vil, como são tratados os outros filhos de nosso Pai. Como Igreja, consumimos dominicalmente quilos e quilos do Corpo Eucarístico de Cristo, toneladas de outros alimentos enquanto centenas, milhares, milhões de crianças, idosos, homens e mulheres, padecem de profunda desnutrição e inanição, um exemplo imoral e escandaloso é o caso do Povo Ianomami.

    “Dai-lhes vós mesmos de comer”, é do contexto da multiplicação dos pães e dos peixes na narrativa de Mateus. Alguns ainda insistem, que o milagre, foi quase que algo mirabolante, extraordinário que de alguns peixes e pães, tenha surgido uma grande quantidade de comida, mas mais extraordinário, que o grande milagre, foi exatamente a partilha. Cada um colocou à disposição do outro, o pouco que havia trazido e o pouco se tornou tanto, que ainda sobraram alguns cestos de alimento.

    A Campanha da Fraternidade, não é ideológica e muito menos uma síndrome de Robin Hood. Toda Campanha é o que é, quer nos dizer, que não precisamos ter pessoas necessitadas entre nós. Não precisamos privar-nos do que temos para darmos aos outros. A Campanha da Fraternidade, quer que sejamos irmãos, que partilhemos, que coloquemos em comum o que temos. Fazemos tantos sacrifícios pessoais para nos salvarmos e quando nos é apresentado um meio tão eficaz e tão divino como a Campanha da Fraternidade, a gente prefere fechar os olhos, ou então olhar para falas vazias de sentimentos e de Deus, que tentam nos desviar de nosso batismo e de nossa fé. 

    A Campanha da Fraternidade de 2023, assim como todas as outras que já fizemos e que faremos, são o caminho mais curto para a nossa conversão, pessoal, comunitária-eclesial e sócio-política. Queiramos ou não, quando tudo chegar ao fim para nós por aqui, seremos julgados pelo o amor que tivemos, mas cada num no seu grau e modo de amar. Nos será perguntado, que se meu jeito de ser Igreja foi verdadeiramente em comunidade, e se a minha fé, minhas adorações, minhas centenas e milhares de eucaristias mudaram a sociedade para melhor e se o meu ser cristão ajudou a construir mecanismos políticos que resgatassem e salvassem meus irmãos, filhos de Deus, principalmente os mais vulneráveis e desprovidos de recursos, que lhe conferissem dignidade e humanidade.

    Anteriormente dissemos, que a relação entre Quaresma e Campanha é irrenunciável, assim como não existe uma boa Quaresma sem, oração, jejum e esmola. E olhem só o que diz o profeta Isaias sobre o tão propalado jejum entre os crentes, cristãos ou não: “porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda” (Is 58,6-8).

    Esse mesmo texto vale para quem queira viver de verdade uma Quaresma com o Senhor. Não fiquemos inventando fardos pesados de sacrifícios inúteis e vazios de humanidade, fraternidade e justiça. Não adianta abster-se de carne ou qualquer outra coisa e alimentar-se do sangue e da vida do irmão. De que vale sangrar no silício e depois fartar-se de coisas, cujas migalhas matariam a fome de um irmão.

    A Campanha da Fraternidade, pede sempre um gesto concreto de solidariedade. Ela não quer esmola, ela quer doação, ou seja, não quer sobejos, quer o que você tira do seu prato, não do que sobrou nele. No envelope da CF 2023, não coloquemos as migalhas recolhidas de nossas mesas, mas ofertemos, daquilo que Deus Providente nos deu com justiça e trabalho.

    Em 2023, excluamos a fome do paradoxo, e deixemos que vença e permaneça a FRATERNIDADE. Não esperemos pelos outros, aos nossos irmãos, famintos, DEMOS NÓS MESMO DE COMER! Partamos e repartamos para limparmos esta horrível nódoa, a fome, que mancha vergonhosamente a imagem tão maravilhosa de nossa nação e de nossa Igreja.

    Mais um lembrete: “QUEM TEM FOME, TEM PRESSA”, portanto, não precisamos esperar a coleta para doarmos, olhemos à direita e à esquerda de nossas casas e vejamos, quem está precisando agora. Juntemos em nossas ruas, condomínios, vizinhanças e vamos dar de comer a quem realmente está passando fome. Aqui não é só fome de Deus, estamos falando de fome de pão. Ah, “FOME NÃO DÓI SÓ NO ESTÔMAGO, DÓI TAMBÉM NA ALMA”.

    Fraternidade só existe sem a fome. Só se pode ser irmãos quando se alimentam uns aos outros. O Corpo do Ressuscitado só será real, se não deixarmos que matem nossos irmãos de fome.

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