A Liturgia das Horas: santificação do dia
Santificar os momentos do dia através da Liturgia das Horas. Compreenda sua grandeza e a beleza através desta Oração da Igreja.
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21.05.2021 13:22:45 | 8 minutos de leitura

Irmão Rafael Pedro Susrina, Psdp.
A Liturgia das Horas proporciona o diálogo entre Deus e o homem. Na qual, Deus fala ao coração do homem, e este, o escuta, ou melhor, cada vez mais busca aprende a escutar.
A oração torna-se verdadeira quando creio no Amor, e afasto o mal - detesto o mal -, abrindo caminho para que a voz de Deus se manifeste e assim consiga corresponder ao chamado. Aquele que aprende a rezar aprende a viver... aproveitemos as horas canônicas para aprender a amar.
As horas canônicas (Divinum Officium) são as divisões do tempo no decurso do dia para a realização de orações. Sua origem está no costume diário dos judeus de recitar orações em horas fixas do dia, prática que os apóstolos mantiveram, fazendo memória, também, dos momentos orantes de Jesus Cristo.
Ofício das Leituras (Matinas)
“O Ofício das Leituras visa proporcionar ao povo, e muito especialmente aqueles que de modo particular estão consagrados ao Senhor, uma meditação mais rica da Sagrada Escritura e das mais belas páginas dos autores espirituais.” (Instrução Geral da Liturgia das Horas, n. 55). “A leitura da Escritura sagrada deve ser acompanhada da oração, para que seja um diálogo entre Deus e o homem: ‘a Ele falamos quando oramos, a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos’. E é por isso que o Ofício da Leitura se compõe também de salmos, hino, oração e outras fórmulas, que lhe dão um caráter de verdadeira oração” (IGLH, n. 56).
Matinas (madrugada) é a hora entre a meia-noite e o levantar do sol. Sua origem está na antiga oração de madrugada, constituída por uma série de vigílias, nocturnos, cujo número variava conforme a importância e solenidade do dia litúrgico. A partir do costume romano de dividir a noite em vigílias, as primeiras comunidades monásticas, instituíram também uma oração ao longo da madrugada, que previa vários nocturnos, em que o sono se interrompia para a oração.
Por causa disso, face à necessidade de adaptar o Ofício Divino às exigências atuais, e de dar às leituras bíblicas e patrísticas o seu papel central nesta oração, o Concílio Vaticano II decretou que “as Matinas, continuando embora, quando recitadas em coro, com a índole de louvor noturno, devem adaptar-se para ser recitadas a qualquer hora do dia; tenham menos salmos e leituras mais extensas” (Sacrosanctum Concilium 89 c).
A oração passou assim a chamar-se Ofício das Leituras (Officium lectionis), podendo ser rezada a qualquer hora do dia.
Laudes (Prima)
“As Laudes se destinam e se ordenam a santificação do período da manhã, conforme se depreende de muitos de seus elementos. Esse caráter matutino está muito mais expresso nas palavras de São Basílio Magno: ‘O louvor da manhã tem por finalidade consagrar a Deus os primeiros movimentos de nossa alma e de nossa mente, e, antes de nos ocuparmos com qualquer outra coisam deixar que nosso coração se regozije pensando em Deus, conforme está escrito: ‘Quando me lembro do Senhor, minha alma desfalece’ (Sl 76(77),4). Pois o corpo não se deve entregar ao trabalho, sem antes termos cumprido o que disse a Escritura: ‘É a vós que eu dirijo a minha prece; de manhã já me escutais! Desde cedo eu me preparo para vós, permaneço a vossa espera’ (Sl 5,4-5)’.
Por outro lado, essa Hora é celebrada ao despontar a luz do novo dia e evoca a ressurreição do Senhor Jesus, que é ‘a luz de verdade, que ilumina todo ser humano’ (cf. Jo 1,9); é o ‘sol da justiça’ (Ml 3,20) ‘que nasce do alto’ (Lc 1,78). É neste sentido que bem se entende a admoestação de São Cipriano: ‘Deve-se orar logo de manhã, para celebrar na oração matinal a ressurreição do Senhor’” (IGLH, n. 38).
Terça (9 horas) - Sexta (12 horas) - Noa (15 horas) = Hora Média
“Segundo antiquíssima tradição, os cristãos costumavam, por devoção pessoal, orar em diversos momentos do dia e no meio do trabalho, imitando a Igreja apostólica. No decurso dos tempos, essa tradição, de diversas maneiras, foi sendo dotada de celebrações litúrgicas” (IGLH, n. 74).
“O costume litúrgico, tanto no Oriente como no Ocidente, adotou a Oração das Nove (Terça), das Doze (Sexta) e das Quinze Horas (Noa), sobretudo porque essas Horas se relacionavam com alguns acontecimentos da Paixão do Senhor e da pregação inicial do Evangelho” (IGLH, n. 75).
“O Concílio Vaticano II estabeleceu que se conservasse a recitação em coro dessas Horas Menores, ou seja, da Oração das Nove, das Doze e das Quinze Horas. Seja mantido o costume litúrgico de dizer essas três Horas, salvo direito particular, para os que professam vida contemplativa. É também recomendada a todos, especialmente àqueles que fazem retiro espiritual ou participam de reuniões pastorais.” (IGLH, n. 76).
“O rito da celebração da Oração das Nove, das Doze e das Quinze Horas é estruturado, levando-se em conta tanto aqueles que dizem uma única Hora, a ‘Hora média’, como também aqueles que devem ou querem recitar as três Horas.” (IGLH, n. 78).
A Hora Média ou Oração das Nove, das Doze e das Quinze Horas destina-se a santificar o decorrer do dia, estando no intermédio das duas horas principais: Laudes e Vésperas.
Vésperas
“Às Vésperas são celebradas a tarde, ao declinar do dia, para ‘agradecer o que nele temos recebido ou o bem que nele fizemos’. Relembramos também nossa redenção por meio da oração, que elevamos ‘como incenso na presença do Senhor’, e na qual o ‘levantar nossas mãos é como ‘sacrifício vespertino’ (cf. Sl 140(141),2). Isso pode também ‘entender-se no sentido mais sagrado daquele verdadeiro sacrifício vespertino que nosso Senhor e Salvador entregou aos Apóstolos, enquanto ceavam juntos, ao instituir os sacrossantos mistérios da Igreja. ou também daquele outro sacrifício vespertino, isto é, na plenitude dos tempos, pelo qual ele mesmo, no dia seguinte, estendendo as mãos, se entregou ao Pai pela salvação do mundo inteiro’. E para que nossa esperança se focalize afinal naquela luz que não conhece ocaso, ‘oramos e pedimos que a luz venha de novo a nós, rogamos pela vinda gloriosa de Cristo, o qual nos trará a graça de luz eterna’. Finalmente, nesta Hora fazemos nossos os sentimentos das Igreja orientais, invocando a ‘Luz radiante, da santa glória do eterno Pai celeste, Jesus Cristo. chegados ao fim do dia, e contemplando a luz da tarde, cantamos o Pai e o Filho e o Espirito Santo de Deus...’’ (IGLH, n. 39).
Completas
“As completas são a última oração do dia, e se rezam antes do descanso noturno, mesmo passada a meia-noite, se for o caso” (IGLH, n. 84).
As Completas são o serviço final da Igreja, a conclusão da jornada, o último agradecimento do dia e a súplica para que Deus nos acompanhe. O Hino das Completas fora do Tempo Pascal expressa a beleza desta oração:
Agora que o clarão da luz se apaga,a vós nós imploramos, Criador:com vossa paternal misericórdia,guardai-nos sob a luz do vosso amor.
Os nossos corações sonhem convoscono sono, possam eles vos sentir.Cantemos novamente a vossa glóriaao brilho da manhã que vai surgir.
Saúde concedei-nos nesta vida,as nossas energias renovai;da noite a pavorosa escuridãocom vossa claridade iluminai.
Ó Pai, prestai ouvido as nossas preces,ouvi-nos por Jesus, nosso Senhor,que reina para sempre em vossa glória,convosco e o Espírito de Amor.
Diante do desejo de santificar o nosso dia a Deus, utilizando-se da Liturgia das Horas para esse bom propósito, torna-se importante frisar que mesmo diante do estado de vida de cada pessoa: todo o povo de Deus é convidado a rezar as horas litúrgicas. Entretanto, sabe-se que rezar todas as horas canônicas é difícil, por necessitar, de nossa parte, uma tremenda organização das prioridades da vida. Por isso a Igreja orienta que se deva dar a maior importância as Laudes e as Vésperas, como orações da comunidade cristã, não só para quem leva uma vida comum, comunidade religiosa/família, mas a todos os fiéis, rezando de forma pessoal (cf. IGLH, n. 40). Vivamos em profunda oração, santificando nosso dia!
“Certamente haverá momentos de provação, momentos difíceis, mas os momentos difíceis são os momentos de Deus. Neste caso, mais fé, mais oração, mais amor ao Senhor, e a provação será coroada, a nossa fé será premiada.” (São João Calábria)
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