A Igreja em oração
Cadernos sobre a oração - 6
Jubileu 2025
20.06.2024 07:00:00 | 7 minutos de leitura

Padre Rafael Pedro Susrina, psdp.
O mistério e o dom da oração
A oração é um mistério que tem sua origem no coração de Deus e é perpetuamente cantado nas moradas celestes. Na Páscoa de Cristo, o Pai revelou o mistério de sua vida íntima e o eterno canto de louvor. A oração é união a prece de Cristo e nos possibilita entrar em comunhão com Ele.
A minha casa será chamada casa de oração (Is 56,7)
Deus quer habitar com os homens na terra, e construiu uma casa para habitar conosco: a Igreja do Deus vivo. A oração é a essência da Igreja, o diálogo entre Deus e o homem, a união entre eles. A casa de oração começou a ser construída com a criação do universo. A criação celebra uma verdadeira liturgia desde o primeiro instante de sua existência, louvando a Deus em seu hino silencioso. Adão recebeu o hino da criação para decifrá-lo e cantá-lo, transformando-se em oração viva. Com a Encarnação do Filho, o canto ressoará perfeitamente na terra. Cada ser humano pode se unir a Cristo e participar do verdadeiro templo. A oração é o lugar onde somos um com Deus, a intimidade do Esposo e da Esposa sendo descrita nesse encontro sagrado.
Aprender a oração
Toda a criação foi feita para ser a casa de Deus e casa de oração. No entanto, o pecado dos progenitores causou a perda da capacidade de louvar a Deus adequadamente. A imagem de Deus neles foi deformada, levando ao medo e à falta de intimidade com Ele. Com a encarnação do Verbo, Jesus introduziu o verdadeiro canto de louvor a Deus na terra. Ele nos ensina a chamar a Deus de “Abbá, Pai” e nos mostra como a verdadeira oração é feita. O Espírito Santo nos guia e nos ensina a orar, permitindo-nos experimentar a intimidade com Deus como filhos amados. A contemplação de Jesus nos purifica e nos leva a um relacionamento mais profundo com Ele, permitindo-nos experimentar a alegria da comunhão com o Pai.
O canto da esposa
Na Liturgia, a voz de Cristo ressoa aos ouvidos da Igreja como a voz do Esposo para sua noiva. A união nupcial entre Cristo e a Igreja é celebrada na Cruz pascal, onde a Igreja se torna a esposa de Cristo. Cristo se une à sua noiva através do sacrifício na Cruz, atraindo todos a si para formar um só corpo.
Na Eucaristia, a união e identificação com Cristo atingem seu ápice, pois ao comer de sua carne e beber de seu sangue, os fiéis comungam (comunhão) em Deus. A Eucaristia é o banquete de núpcias preparado para todos, sem exceção. Na Liturgia Eucarística, Cristo se une corporalmente aos fiéis, tornando-se alimento e bebida para que possam viver Nele.
O Ofício Divino é o lugar onde a influência da Eucaristia se expande para toda a vida do fiel, moldando a oração da Igreja. Nele, a voz da Esposa se une à voz do Esposo em uma única voz de louvor ao Pai. A Igreja, ao cantar o canto do Cordeiro imolado e ressuscitado, fala as palavras de Cristo e participa da suprema honra de ser a Esposa de Cristo. A oração da Igreja é a oração de Cristo, e a oração de Cristo é a oração da Igreja, permitindo a associação ao canto de louvor eterno da Trindade. Na Liturgia das Horas, a Igreja de todos os tempos e lugares se une em um só cântico de louvor a Deus.
A liturgia do coração: a vida de oração
A oração incessante se faz presente na Liturgia das Horas, que é essencial para a vida cristã. A Igreja, como esposa de Cristo, está sempre em oração, desejando seu esposo. O Espírito Santo age no coração dos indivíduos, atraindo-os para a fonte do amor divino. Na experiência da noite escura da alma, Deus pode parecer distante, mas é nesse silêncio que ocorre a purificação da esperança e da imagem de Deus. A espera contínua pela presença divina nos molda para uma entrega total a Deus. O silêncio de Deus pode ser interpretado como uma purificação necessária para compreender a verdadeira natureza da oração e da dependência total de Deus.
O deserto
O deserto é um local abandonado, onde as condições de vida faltam, levando à solidão. É no deserto que o ser humano experimenta sua vulnerabilidade e impotência, confrontando sua mortalidade e se descobrindo em sua verdadeira condição de miséria. É somente o Espírito que nos atrai para o deserto, pois é onde Deus revela seu verdadeiro rosto àqueles que o buscam na humilhação de sua pobreza. No deserto, somos confrontados com nossos demônios e maldades, despojados de tudo, incluindo nosso orgulho, e confrontados com nossa incurável miséria.
A Páscoa de Cristo também aconteceu na solidão e no silêncio. É na solidão e no silêncio da noite pascal que a Igreja vive plenamente a comunhão com a morte e ressurreição de Cristo, sua Páscoa. Toda a vida de oração converge em deixar Cristo viver sua vida em nós, em compartilhar com Ele sua Páscoa, revelando o verdadeiro rosto do Pai, no rosto do Filho crucificado e ressuscitado. É através dessa derradeira Páscoa que a Igreja entrará na glória do Reino, seguindo seu Senhor em sua morte e ressurreição.
A vida ressurreta
A Páscoa de Jesus mudou definitivamente e radicalmente a história. A contemporaneidade da Páscoa permite a cada pessoa ter sua própria experiência do Ressuscitado, da presença real de Cristo em sua vida. A oração é apontada como a porta que permite a entrada de Cristo na vida de cada indivíduo, atraindo para o seu Mistério.
O testemunho do Ressuscitado na vida do cristão é ressaltado como a única razão de ser dos cristãos e da Igreja. A oração é o meio pelo qual o Ressuscitado continua agindo na vida das pessoas, atraindo todos a si. Por meio da oração, o cristão passa da morte para a vida, recebendo a vida eterna e permanecendo em comunhão com o Ressuscitado. A ação de Deus na vida de cada pessoa é descrita como um contato real, de pessoa para pessoa, que transforma a existência e dá sentido à vida.
A mãe da oração
O “sim” completo e total de Maria permitiu que a Palavra se tornasse carne. A fé silenciosa de Maria possibilitou que a oração se tornasse tangível, permitindo que a humanidade louvasse a Deus por meio de Jesus Cristo. A devoção a Maria é fundamental para a vida espiritual, pois ela meditava os acontecimentos em seu coração, exemplificando as etapas da vida espiritual de todo seguidor de Cristo. Maria é a mãe da oração, sendo aquela que gera Jesus em nós por meio da fé.
A vida do cristão é oração. Oração constante, profunda, verdadeira. Ser Igreja é estar em oração, por si e por todos, agradecendo e pedindo, mais agradecendo que pedindo... Entregando o labor diário como oferta a Deus. Ouvindo a Palavra de Deus. Meditando os mistérios de Cristo junto com nossa mãe Maria. Enfim, rezando, orando... pois naturalmente a Igreja sempre está em oração.
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